Skip to main content

O Congresso virará as costas para as mulheres?

PEC proibiria o aborto em casos de estupro e risco à saúde

Pessoas participam da manifestação "Marcha das Vadias" na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde o Papa Francisco celebrou uma missa à noite, em julho de 2013. No cartaz está escrito "Fim da criminalização da mulher. Aborto é um direito" © REUTERS/Pilar Olivares
 

Centenas de mulheres morreram em decorrência de abortos não seguros no Brasil nos últimos anos. Mesmo assim, na tarde de quarta-feira, dia 8 de novembro, 18 deputados da Comissão Especial destinada a proferir parecer à Proposta de Emenda à Constituição nº 181 – todos homens – votaram a favor da perigosa emenda constitucional que, se aprovada, pode aumentar essa estatística. O único voto contra foi o de uma mulher.

A nova emenda proibiria o aborto em qualquer circunstância. A lei atual no Brasil permite o a interrupção voluntária da gravidez quando a vida da mulher está em risco, em casos de gravidez decorrente de estupro ou de fetos anencéfalos – uma má formação congênita do cérebro.

A proposta precisará de maioria absoluta dos votos nas duas casas do Congresso para ser aprovada. Caso a emenda seja sancionada, mulheres e meninas que desejam interromper a gestação porque suas vidas estão ameaçadas ou porque foram estupradas vão ser forçadas a manter a gravidez, ou irão buscar um aborto clandestino. Em muitas situações, ambas as opções podem representar um risco para a saúde e a vida dessas mulheres. Além disso, quem optar por um aborto ilegal poderá será condenada à prisão por tomar uma decisão fundamental em relação a sua própria saúde.

Meus colegas e eu entrevistamos cerca de 100 mulheres e meninas no Brasil para um relatório sobre os impactos da epidemia de Zika. Muitas delas tiveram gravidezes não planejadas e disseram que se sentiram desesperadas. Médicos nos contaram que, no último ano, trataram mulheres com sérias complicações decorrentes de métodos de aborto ineficientes e arriscados. 

Duas ações no Supremo Tribunal Federal podem ampliar o acesso ao aborto seguro e legal. O Congresso brasileiro, que está seguindo a direção oposta, deveria evitar o caminho de países onde o aborto é completamente proibido, como a Nicarágua.

Há duas semanas eu me encontrei com ativistas na Nicarágua que me contaram sobre como – em um país com altos índices de violência doméstica e sexual – adolescentes, sobreviventes de estupro e mulheres pobres são as que mais sofrem com a proibição do aborto. Elas descreveram a crueldade de forçar meninas e mulheres a manterem uma gravidez decorrente de estupro ou de continuar uma gestação onde não há esperança alguma de que o feto sobreviva fora do útero.

O Congresso brasileiro deveria proteger a saúde e o direito das mulheres e rejeitar esta proposta desumana.

GIVING TUESDAY MATCH EXTENDED:

Did you miss Giving Tuesday? Our special 3X match has been EXTENDED through Friday at midnight. Your gift will now go three times further to help HRW investigate violations, expose what's happening on the ground and push for change.
Região/País