Skip to main content

França: ação coletiva contra discriminações étnico raciais

Organizações da sociedade civil apresentam denúncia sobre discriminação racial sistêmica ao Conselho de Estado

Policiais averiguam documentos de identidade de pedestres durante o confinamento em Rennes, França. 11 de abril de 2020. © 2020 Sipa via AP Images

(Paris) - “A França fracassou em tomar medidas necessárias para prevenir e sancionar a discriminação étnico racial realizadas pela polícia durante abordagens para verificação de identidade, uma forma de discriminação sistêmica”, declararam hoje seis organizações francesas e internacionais de defesa de direitos humanos ao apresentarem uma ação coletiva contra o Estado francês.

Antoine Lyon-Caen, advogado perante o Conselho de Estado e a Corte de Cassação francesas, levou o caso ao Conselho de Estado, o mais alto tribunal administrativo da França, em nome da Maison Communautaire pour un Dévelopement Solidaire (Casa Comunitária para o Desenvolvimento Solidário - MCDS), Pazapas, Réseau Égalité, Antidiscrimination, Justice Interdisciplinaire (Rede Igualdade, Antidiscriminação, Justiça Interdisciplinar - Reaji), Anistia Internacional na França, Human Rights Watch e Open Society Justice Initiative.

As organizações iniciaram a ação em janeiro de 2021, quando enviaram uma notificação ao primeiro-ministro, ao ministro de interior e ao ministro da justiça solicitando reformas estruturais e medidas concretas para cessar as práticas policiais discriminatórias, um problema que foi reconhecido pelo presidente da República francesa. As autoridades não responderam a carta no período de quatro meses previsto pela lei. Esse silêncio é particularmente doloroso para as vítimas diárias dessas práticas discriminatórias, lamentaram as organizações.

A ação coletiva é um procedimento inovador na lei francesa. Permite a grupos da sociedade civil solicitar ao tribunal que ordene às autoridades responsáveis a tomem medidas necessárias para impedir práticas ilegais generalizada de discriminação étnico racial.

As organizações estão solicitando ao Conselho de Estado que reconheça a culpa do Estado francês por não ter prevenido as práticas de discriminação étnico racial pela polícia e que ordene às autoridades a adotarem reformas necessárias, incluindo:

  • Reformular os poderes da polícia em abordagens de verificação de identidade, a fim de proibir explicitamente a discriminação neste procedimento, abolir verificações preventivas de identidade e regular rigorosamente o poder policial dentro dos controles judiciários a fim de garantir que as verificações de identidade tenham critérios objetivos e individualizados;
  • Adotar medidas e regulações específicas para interromper a abordagem de crianças e adolescentes;
  • Criar um sistema que permita registrar e avaliar os dados nas verificações de identidade e fornecer uma justificativa e registro do controle aos indivíduos abordados
  • Criar um mecanismo de denúncia de abusos independente e eficaz; e
  • Modificar os objetivos institucionais, as diretrizes e o treinamento da polícia, inclusive no que diz respeito às interações com o público.

A ação judicial histórica surge após anos de omissão das autoridades francesas, que permitiram que essas práticas ilegais afetassem um número significativo de pessoas na França. O caso tem por fundamento numerosas evidências de que a polícia realiza abordagens com base em características étnico-raciais, prática de associação de características físicas, reais ou não, à determinada origem étnica ou racial.

A ausência de uma base jurídica que respeite os padrões legais de não discriminação permite que a polícia use poderes excessivamente amplos para realizar verificações de identidade de maneira discriminatória. Estudos quantitativos demonstraram que homens e meninos vistos como negros ou árabes são desproporcionalmente abordados para verificação e revistas, enquanto relatórios qualitativos documentaram o impacto devastador do policiamento discriminatório, incluindo crianças a partir dos 12 anos.

O requerimento apresentado em 22 de julho demonstra como a caracterização étnica pela polícia francesa constitui uma discriminação sistêmica – definida pelo Comitê dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas como “leis, políticas, práticas ou atitudes culturais predominantes no setor público ... que cria desvantagens relativas para alguns grupos e privilégios para outros grupos” – e detalha a resposta até então inadequada do Estado francês para pôr fim a isso.

As medidas adotadas que se mostraram insuficientes incluem o uso de câmeras corporais e a obrigatoriedade dos policiais de usarem números de identificação. As autoridades negaram sistematicamente todas as tentativas que visavam instalar um dispositivo de registro de verificação de identidades e de fornecimento desses dados aos abordados.

Em 28 de junho, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos destacou a França pelas abordagens policiais discriminatórias no relatório sobre a “Promoção e proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais dos africanos e afrodescendentes contra o uso excessivo da força e outras violações de direitos humanos por agentes da lei”. No passado, outras autoridades da ONU e da Europa pediram às autoridades francesas que acabassem com as verificações discriminatórias.

Em 8 de junho, a Corte de Apelações de Paris mais uma vez condenou o Estado francês por “má conduta grave” pela abordagem discriminatória de três estudantes em uma estação de trem de Paris em 2017 quando eles voltavam de uma excursão escolar.

O Defensor Público enfatizou sua crítica às verificações de identidade discriminatórias e exigiu uma reforma. Em 2016, a Corte de Cassação decidiu que as detenções feita pela polícia de três jovens em 2011 constituíam discriminação e “graves erros que implicam a responsabilidade do Estado”.

O Conselho de Estado tem autoridade para ordenar ao estado que acabe essas práticas estigmatizantes, humilhantes e degradantes, afirmaram as organizações.

GIVING TUESDAY MATCH EXTENDED:

Did you miss Giving Tuesday? Our special 3X match has been EXTENDED through Friday at midnight. Your gift will now go three times further to help HRW investigate violations, expose what's happening on the ground and push for change.