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(Washington, DC) - As forças venezuelanas de segurança e inteligência detiveram e torturaram militares acusados de conspirar contra o governo, disseram hoje a Human Rights Watch e a organização não-governamental venezuelana Foro Penal. As autoridades também detiveram e torturaram familiares de alguns suspeitos, na tentativa de identificar sua localização.

Alguns detidos foram submetidos a graves abusos, equivalentes à tortura, para forçá-los a fornecer informações sobre supostas conspirações. Na maioria dos casos, membros do Diretório Geral de Contra Inteligência Militar (DGCIM) ou do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN) realizaram as prisões.

“A Venezuela tem reprimido brutalmente membros das forças armadas acusados de conspirar contra o governo", disse José Miguel Vivanco, diretor das Américas da Human Rights Watch. “Agentes de inteligência estão não somente detendo e torturando membros das forças armadas, mas em alguns casos também perseguindo familiares ou outros civis quando não conseguem localizar os suspeitos.”

Os grupos analisaram informações sobre casos envolvendo um total de 32 pessoas. As vítimas incluem oficiais militares de diferentes escalões acusados de conspirar contra o governo e civis acusados de colaborar com Oscar Pérez, um policial insubordinado que foi assassinado após fazer oposição ao governo.

Em alguns casos, familiares, incluindo o filho, a mãe, o pai, o parceiro ou parceira dos suspeitos foram detidos com a finalidade de descobrir o paradeiro dos supostos conspiradores. Alguns foram submetidos a graves abusos.

Agentes de inteligência submeteram vários detidos a abusos físicos e psicológicos. Os abusos incluem espancamentos brutais, asfixia, corte nas solas dos pés com uma lâmina de barbear, choques elétricos, privação de comida, proibir a utilização de banheiro e ameaças de morte. Vários detidos não tiveram acesso às suas famílias ou advogados por vários dias. Durante a detenção em prisões ou sede/quartéis-generais da inteligência militar, eles não tiveram acesso a tratamento médico adequado.

Os crimes pelos quais são acusados incluem “traição” e “instigar rebelião”. Os advogados que representam os acusados – e que tiveram acesso a processos judiciais e audiências nesses casos, incluindo processos de civis em tribunais militares – disseram que as acusações foram fabricadas e que não se sustentaram em qualquer evidência real.

Considerando a dificuldade de acessar os autos nesses casos, e que alguns documentos judiciais não podem ser legalmente compartilhados com aqueles que não são partes do processo, não é possível comentar as evidências apresentadas pelos promotores em cada caso. A Human Rights Watch pediu ao governo venezuelano para descrever as ações que fundamentam as denúncias e quais provas possuía contra os suspeitos nesses casos, mas não obteve resposta.

Pesquisas da Human Rights Watch e Foro Penal mostram que os casos analisados seguem o mesmo padrão de tortura e abuso contra detentos por policiais venezuelanos, agentes de inteligência e membros da Guarda Nacional Bolivariana, conforme os grupos têm documentado desde 2014.

Não são casos isolados. Em relatórios publicados em 2014 e 2017, a Human Rights Watch identificou abusos generalizados por membros das forças de segurança. Em cada relatório, a Human Rights Watch concluiu que as evidências corroboram com a conclusão de que os abusos faziam parte de uma prática sistemática das forças de segurança venezuelanas. Entre as repressões de 2014 e 2017, a Human Rights Watch documentou outros casos de processos motivados politicamente, nos quais os detidos também foram vítimas de abuso durante a custódia, incluindo tortura.

Desde 2014, a Human Rights Watch documentou na Venezuela mais de 380 casos de tratamento cruel, desumano ou degradante contra opositores do governo ou considerados opositores, incluindo pelo menos 31 casos de tortura. O Foro Penal disse que pelo menos 15% dos detidos por motivação política disseram que sofreram tortura ou maus-tratos. Esses casos não refletem o quadro completo do problema, devido à subnotificação de vítimas que temem retaliação.

Mais de 12.800 pessoas foram presas desde 2014 em conexão aos protestos contra o governo, segundo o Foro Penal. Isso inclui manifestantes, espectadores e pessoas retiradas de suas casas sem mandados. Mais de 7.500 foram liberadas condicionalmente, mas continuam sujeitas a processos criminais. Desde 2017, os tribunais militares processaram mais de 800 civis, violando o direito internacional dos direitos humanos.

Nenhuma informação oficial foi disponibilizada sobre processos de oficiais implicados em violações de direitos humanos, se houve, desde que a Assembleia Constituinte pró-governo demitiu Luisa Ortega Díaz, então procuradora-geral, em agosto de 2017. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) informou em junho de 2018 que a impunidade por abusos dos direitos humanos na Venezuela é “generalizada”.

Em fevereiro, a promotora do Tribunal Penal Internacional, Fatou Bensouda, anunciou um exame preliminar para analisar se houve crimes dentro da jurisdição do tribunal e se uma investigação completa do TPI deve ser conduzida. O relatório anual do seu gabinete sobre exames preliminares, publicado em dezembro, afirmou que, embora o exame se concentre em supostos abusos desde 2017, o escritório também pode incluir no exame preliminar alegados crimes desde fevereiro de 2014.

Em setembro, em uma medida sem precedentes, seis países das Américas – todos membros do TPI – solicitaram uma investigação da corte sobre supostos crimes na Venezuela desde fevereiro de 2014. Outros governos da região e da Europa apoiaram o pedido. O promotor/A promotora do TPI precisará determinar se estão preenchidos os requisitos do tribunal para uma investigação completa.

“A impunidade por crimes de direitos humanos na Venezuela é deliberada”, disse Gonzalo Himiob Santomé, diretor do Foro Penal. “Em um contexto no qual os responsáveis por abusos de direitos humanos têm maior probabilidade de serem recompensados do que levados à justiça, é fundamental explorar caminhos para responsabilizá-los no exterior.”

Casos selecionados revisados pela Human Rights Watch e Foro Penal estão descritos abaixo.

José Alberto Marulanda Bedoya, 53, cirurgião

Em 19 de maio de 2018, agentes armados sem identificação oficial chegaram à casa de Emmy Mirella Da Costa Venegas, uma sargento do Exército acusada de participar de uma conspiração contra o governo. Ela não estava, mas detiveram seu parceiro, José Alberto Marulanda Bedoya. Os agentes, que a família acredita pertencerem à inteligência militar, disseram apenas que José Alberto era "requerido" pelas autoridades e o levaram embora.

A família e os advogados de José Alberto não sabiam seu paradeiro antes de ser levado perante um tribunal militar cinco dias depois, embora a lei exija uma primeira audiência dentro de 48 horas, disse o Foro Penal, que fez a defesa. José Alberto foi acusado de traição e de instigar rebelião por discutir “planos de conspiração contra o governo venezuelano” durante um suposto encontro na Colômbia com o coronel Oswaldo García Palomo, um venezuelano acusado de estar na Colômbia com o apoio dos governos dos Estados Unidos e da Colômbia. José Alberto nega que tal reunião tenha ocorrido e diz que não conhece o coronel García Palomo, e não há provas do contrário, disseram seus advogados.

José Alberto foi acusado de trazer para a Venezuela materiais de telecomunicações fornecidos por García Palomo, a fim de serem distribuídos por Emmy e utilizados para a conspiração. O juiz aceitou somente a acusação de instigação a rebelião, pela qual José Alberto está atualmente sendo investigado e permanece sob prisão, disseram seus advogados.

José Alberto disse aos seus advogados que ele tinha sido mantido na sede da DGCIM, onde sofreu severos abusos para forçá-lo a revelar o paradeiro de Emmy. Ele disse que os agentes o espancaram brutalmente no estômago e nas costas, tentaram asfixiá-lo com uma sacola plástica, usaram uma barra de metal para bater na sola dos pés, e o forçaram a usar algemas apertadas, fazendo-o perder a sensibilidade nas mãos. Eles o espancaram tão severamente na cabeça, ele contou, que perdeu a audição em seu ouvido direito.

Seu mandado de prisão é datado de 24 de maio, cinco dias depois de ter sido preso, disse seu advogado.

Desde a audiência, José Alberto tem sido mantido na prisão militar de Ramo Verde. Seu advogado diz que ele tem dificuldade em dormir, pensamentos suicidas, hipertensão e consequências físicas das surras. Como nenhum tratamento médico para suas necessidades está disponível na prisão, seu advogado pediu ao tribunal militar que garanta a José Alberto acesso aos cuidados médicos necessários, mas o tribunal nunca respondeu.

O juiz adiou a audiência preliminar, na qual o promotor deve apresentar provas contra ele, seis vezes porque os guardas não levaram José Alberto ao tribunal. A primeira audiência finalmente ocorreu em dezembro e o caso está em andamento.

Juan Antonio Gómez (pseudônimo), 46

Em 14 de janeiro de 2018, mais de 30 agentes mascarados da DGCIM invadiram a casa de Juan Antonio Gómez, conforme este contou em uma carta aos seus advogados analisada pela Human Rights Watch. Ele disse que os agentes ameaçaram matar pessoas em sua casa, incluindo uma menina de 7 anos.

Juan Antonio prestava serviços de táxi e foi acusado de ajudar Oscar Pérez, um policial desonesto que lançou uma suposta granada de um helicóptero contra o prédio da Suprema Corte em Caracas, após pedir que o povo venezuelano se rebelasse contra o governo. Em 15 de janeiro, Pérez e seis outros foram mortos depois que forças de segurança e membros de um grupo armado pró-governo cercaram uma casa onde estavam escondidos na cidade de El Junquito, perto de Caracas. Há fortes evidências que sugerem que Pérez pode ter sido executado extrajudicialmente, incluindo vídeos nos quais disse que se renderia e uma cópia de seu atestado de óbito, informando que a causa da morte foi um único tiro na cabeça e que fraturou seu crânio.

Os agentes apontaram uma arma para o peito de Juan Antonio e disseram que estava sendo detido, ele escreveu. Quando perguntou se tinham um mandado, os policiais mandaram calar a boca. Eles o espancaram no estômago, o algemaram e roubaram celulares, dinheiro, um laptop e passaportes da casa, ele disse.

Os policiais colocaram Juan Antonio em um veículo não oficial, ele contou, onde o espancaram e o ameaçaram de morte. Os espancamentos supostamente continuaram dentro da sede da inteligência militar, onde os oficiais vendaram seus olhos, bateram e chutaram suas costelas e costas, e o forçaram a deitar no chão, cortando as solas de seus pés com uma lâmina de barbear. Mais tarde, enquanto um policial o espancava, outro colocava uma sacola no seu rosto, tentando asfixiá-lo. Juan Antonio disse que eles repetiram essa forma de tortura pelo menos oito vezes. Eles também enfiaram um pedaço de pano em sua boca e deram choques elétricos.

De acordo com Juan Antonio, um oficial disse: "Estamos com sua esposa aqui, que é uma vaca!" Eles trouxeram a esposa para o quarto, forçaram-na a se deitar ao lado dele, bateram nela e aplicaram "os mesmos métodos de tortura,” exceto pelas lâminas de barbear, ele disse.

Eles o torturaram por dois dias, disse Juan Antonio. "Chegou a um ponto em que não conseguia sentir nada", ele escreveu.

Também ameaçaram encontrar seus filhos, e sabiam que estes estavam no Peru, e exigiram o paradeiro de Oscar Pérez.

Em 19 de janeiro, Juan Antonio foi levado perante um juiz militar e acusado de traição, rebelião militar e roubo de armas das Forças Armadas, disseram os advogados do Foro Penal que o defenderam. Eles disseram que os promotores não explicaram quais ações de Juan Antonio constituíram tais crimes.

Depois da audiência, os agentes da inteligência militar levaram Juan Antonio de volta ao quartel-general, embora um juiz tenha ordenado que fosse detido em outra prisão, escreveu Juan Antonio. Os agentes disseram que sua esposa permanecia detida e estava sendo torturada. Uma noite, ele disse, eles o levaram para passear pela cidade com o rosto coberto. O carro parou de repente e o mandaram sair. Juan Antonio recusou, dizendo que deveriam matá-lo dentro do veículo, e eles seguraram uma arma em seu peito, ameaçando matá-lo. Em vez disso, eles retornaram com ele à sede da DGCIM, onde os agentes espancaram e exigiram sua senha bancária.

Eles o levaram para a prisão militar de Ramo Verde em 24 de janeiro, onde ele passou 10 dias sem ver seus advogados e 25 dias sem acesso a sua família, dizia sua carta.

Promotores o acusaram formalmente em 28 de fevereiro. O juiz adiou a audiência preliminar oito vezes porque Juan Antonio não foi levado ao tribunal. Sua audiência preliminar ocorreu em dezembro. Ele foi liberado condicionalmente em 19 de dezembro, mas seu caso está em andamento.

Ariana Granadillo Roca, 21, estudante de medicina

Em 2 de fevereiro de 2018, agentes da DGCIM detiveram Ariana Granadillo Roca. Eles a levaram com dois familiares da casa onde estava morando, que pertencia ao Coronel García Palomo, um parente distante e oficial militar investigado pelo governo venezuelano por suposta conspiração. Ariana, que vivia em Río Chiquito, uma comunidade rural no estado de Monagas, estava hospedada lá para ficar perto do Hospital Victorino Santaella, onde estava fazendo um estágio.

Na detenção, os policiais prenderam pastas em sua cabeça para bloquear sua visão, bateram nela e tocaram em várias partes de seu corpo, exigindo que contasse o paradeiro de García Palomo. Ela foi libertada dois dias depois sem explicação.

Em 24 de maio, agentes da inteligência militar detiveram Ariana novamente, sem ordem judicial e desta vez com seus pais, na casa deles no estado de Miranda. As autoridades os mantiveram incomunicáveis, não confirmando seus paradeiros aos advogados do Foro Penal por uma semana.

Agentes abusaram de Ariana para obrigá-la a revelar o paradeiro de García Palomo. Eles colocaram uma sacola sobre a cabeça de Ariana, amarraram suas mãos atrás das costas e seguraram suas pernas. Quando Ariana disse que não tinha nenhuma informação para fornecer, eles seguraram uma sacola sobre sua cabeça até ela quase perder a consciência.

Ariana e seus pais foram libertados em 31 de maio sem acusações.

Em 23 de junho, policiais investigativos tiraram Ariana de um ônibus. Eles disseram que tinham um mandado de prisão para ela, mas era datado de 27 de maio, quando Ariana estava sendo mantida por agentes da DGCIM, contou seu advogado. Ariana foi detida primeiro em uma prisão e depois transferida para a sede da inteligência militar em Caracas.

Em 3 de julho, Ariana foi levada perante um tribunal militar e acusada de instigar rebelião, disse o Foro Penal. Ariana foi acusada de ter conversas telefônicas com a esposa de García Palomo e de receber dinheiro dela. Ariana disse a seu advogado que ela mantinha contato regular por telefone com a esposa de García Palomo enquanto morava em sua casa, e que o único dinheiro que recebia era para despesas para cuidar dos cachorros dos donos. Ela foi liberada condicionalmente, mas não pode deixar o país e precisa comparecer ao tribunal a cada oito dias.

Carlos Alberto Mora Álvarez, 50

Em 22 de maio de 2018, seis agentes da SEBIN detiveram Carlos Alberto Mora Álvarez sem apresentar um mandado, alegando que ele seria levado para uma “investigação”, disse seu advogado, que conversou com Carlos Alberto na detenção e com sua esposa, que estava presente. Carlos Alberto é um motorista de táxi que mora no estado de Táchira, perto da fronteira com a Colômbia, e fornece transporte para os venezuelanos que querem viajar para a Colômbia.

Sua família não pôde visitá-lo depois que chegou à sede da SEBIN em San Cristóbal, estado de Táchira. Sua esposa viu agentes tirá-lo da sede da agência naquela noite e mais tarde ele disse ao advogado que o levaram para um clube de tênis, onde um médico, que estava jogando tênis, deveria avaliar sua condição física. Carlos Alberto disse ao seu advogado que a entrevista durou 10 minutos e consistiu em algumas perguntas sobre se ele havia sido espancado.

Naquela noite, agentes da SEBIN o entregaram a agentes da DGCIM armados e encapuzados, que o transferiram para seus escritórios em San Cristóbal, disse seu advogado do Foro Penal, que conversou com ele. Quando ele chegou, eles colocaram um capuz preto sobre sua cabeça, bateram e tentaram asfixiá-lo por seis horas enquanto o interrogavam.

No dia seguinte, os agentes da DGCIM o levaram de avião para Caracas, onde os agentes o espancaram com uma tábua de madeira emsua sede. Ele disse que várias vezes os policiais o espancaram com uma vara de madeira em suas nádegas nuas enquanto tomava banho. Eles não o alimentaram por quatro dias.

Em 27 de maio, eles o levaram para um tribunal militar, onde foi acusado – juntamente com José Alberto – de traição e de instigar rebelião. Agentes de inteligência acusaram-no de prestar serviços de táxi ao Coronel García Palomo. No dia seguinte, os agentes o transferiram para a prisão militar de Ramo Verde, onde ele passou 12 dias em uma minúscula cela de punição.

Em 12 de julho, o tribunal autorizou sua liberdade condicional. Ele não pode deixar o país, participar de manifestações ou falar sobre seu caso para a imprensa nacional ou internacional e é obrigado a comparecer aos tribunais a cada 30 dias, disse seu advogado.

Luis Hernando Lugo Calderón, 33 e Carlos José Esquerda Martínez, 32

Em 11 de outubro de 2018, o primeiro-tenente Luis Hernando Lugo Calderón e o primeiro-tenente Carlos José Esquerda Martínez foram libertados da prisão após quase quatro anos, acusados de participarem de uma suposta tentativa de golpe em 2015.

Enquanto Luis Hernando estava recolhendo seus pertences pessoais da prisão, agentes encapuzados e armados da SEBIN irromperam em sua casa dizendo que precisavam que respondesse algumas perguntas, disse sua irmã, que mora no exterior. Eles voltaram algumas horas depois e detiveram sua mãe. Ela e o seu parceiro, que tinham ido procurá-la, foram detidos na sede da DGCIM em Maracay durante várias horas. Os agentes roubaram telefones, dinheiro e perfume, disse a família. Nesse mesmo dia, outros agentes da inteligência militar revistaram a casa da namorada de Luis Hernando.

Em 14 de outubro, agentes da DGCIM invadiram a casa onde Luis Hernando estava hospedado e o detiveram, assim como seu pai, sua namorada e o dono da casa, um amigo, sem apresentar uma ordem judicial, disse a irmã. Agentes disseram a ele que gostariam de ter encontrado armas de fogo em sua casa para justificar uma execução, disse ele. Os outros foram liberados após serem forçados a assinar um documento dizendo que não falariam sobre o caso por 10 anos, sob pena de serem acusados de “espionagem” e “traição” por “compartilhar informações com o inimigo”.

Luis Hernando foi mantido em uma cela fria na sede da agência em Caracas, onde os agentes lhe negaram água e comida durante dias, forçando-o a beber água da privada. Ele só podia ir ao banheiro duas vezes por dia. Em 15 de novembro, ele foi transferido para a prisão militar de Ramo Verde. Agentes disseram a sua família que ele não é um "prisioneiro" e que não precisa de um advogado porque está sob investigação. Luis Hernando disse à namorada que teve pensamentos suicidas.

Entre 11 e 14 de outubro, agentes da DGCIM e da SEBIN invadiram a casa de Carlos José, assediaram sua esposa e detiveram seu pai e um primo por várias horas em incidentes separados, perguntando sobre o paradeiro de Carlos José. Agentes roubaram dinheiro, brinquedos, uma TV e bebidas alcoólicas da casa, disse seu irmão, que mora no exterior. Carlos José fugiu do país, disse seu irmão.

Lorenzo Pérez (pseudônimo), 31, e sua esposa Lidia González (pseudônimo), 38

O ex-sargento do Exército Lorenzo Pérez e sua esposa, a ex-sargento Lidia González, disseram que cada um deles foi dispensado do exército por críticas ao governo.

Em fevereiro de 2018, quando Lorenzo estava comprando comida, um amigo e outro soldado lhe disseram para não ir para casa. Agentes da SEBIN e da DGCIM estavam esperando por ele, alertou o amigo. Lorenzo escutou o conselho.

Mas quando as autoridades não puderam encontrar Lorenzo, membros da Guarda Nacional Bolivariana levaram o filho de 18 anos do casal. As autoridades o detiveram por três meses em uma prisão de alta segurança, disseram seus pais, espancando-o e exigindo saber onde seu pai estava.

Durante esse período, Lorenzo e Lidia disseram que viveram escondidos e venderam seus pertences, a fim de arrecadar fundos para tentar tirar o filho da cadeia e alimentar os outros três filhos. A dieta da família era principalmente mandioca e arroz barato para animais, disseram eles. Lorenzo e Lidia faziam apenas uma refeição por dia. Eles disseram que o filho foi acusado de participar de um "boicote" e liberado condicionalmente, aguardando julgamento em 12 de abril. O juiz ordenou que compareça periodicamente ao tribunal.

Lorenzo e Lidia fugiram para a Colômbia. Na chegada, Pérez, com 1,61 metro de altura, pesava 42 quilos.

Luis Alejandro Mogollón Velázquez, 32

Em março de 2017, os funcionários da DGCIM detiveram o tenente Luis Alejandro Mogollón Velázquez enquanto ele trabalhava na base do Fuerte Tiuna em Caracas. Os agentes estavam procurando por alguém com o sobrenome "Mogollón Medina" e não apresentaram um mandado de prisão, ele contou aos advogados do Foro Penal que o defenderam.

Luis Alejandro disse que apesar de ter dito aos oficiais da DGCIM que não correspondia com seu nome, eles o mantiveram algemado a uma cadeira por nove dias, espancaram-no brutalmente na cabeça e no corpo, e o penduraram no teto por suas mãos e pés, exigindo informações sobre os outros do seu grupo, de acordo com seu advogado.

Ele foi levado perante um tribunal militar em 14 de abril de 2017 e acusado de traição, rebelião militar e instigar rebelião. Seu advogado disse que o promotor só fez uma declaração geral de que Luis Alejandro estava envolvido em conspiração, mas não apresentou alegações factuais mais específicas para sustentar a acusação. A audiência preliminar, na qual o promotor deve apresentar provas contra ele, foi adiada 26 vezes.

Luis Alejandro já sofria de hipertensão, os efeitos posteriores de um crânio fraturado por cair de um veículo em movimento e câncer infantil. Seu advogado pediu ao juiz militar para garantir o acesso a cuidados médicos apropriados, já que estes não estavam disponíveis onde estava detido, mas o juiz não respondeu, disse seu advogado.

Henry José Medina Gutiérrez, 44; Igbert José Marín Chaparro, 40; Tamara González (pseudônimo), 36

Em 2 de março de 2018, um oficial superior chamou Henry José Medina Gutiérrez em casa, sua esposa contou à Human Rights Watch, e ordenou que se encontrasse com um membro de alto escalão do exército. Agentes da inteligência militar detiveram Henry José quando ele chegou ao Ministério da Defesa em Caracas. Igbert José Marín Chaparro também foi preso naquele dia, sua esposa contou à Human Rights Watch, em Fuerte Tiuna, uma base militar onde ele estava estacionado.

No mesmo dia, uma sargento do Exército, Tamara González, foi instruída a retornar da licença médica. Agentes SEBIN a prenderam quando chegou à base militar no estado de Táchira, seu posto de trabalho, disse seu advogado. Tamara era assistente de Medina Gutiérrez. Cerca de 20 outros membros das forças armadas também foram detidos naquele dia.

Autoridades liberaram algumas delas, mas transferiram nove – incluindo Henry José, Igbert José e Tamara– para os escritórios da DGCIM em Caracas.

Lá, um funcionário bloqueou a visão de Tamara González com um chapéu militar, fazendo-a tropeçar e rolar as escadas, disse ela ao advogado. Ela disse que duas agentes femininas de capuz a chamavam de "cadela " e "traidora", espancaram-na e colocaram um capuz com gás lacrimogêneo no rosto, causando uma sensação de queimação, até ela desmaiar. Ela não tinha permissão para usar o banheiro ou tomar seu remédio para epilepsia.

O advogado disse que pediu ao juiz militar para autorizar o tratamento médico que Tamara precisa para várias condições, incluindo problemas nas costas, mas o juiz não o fez. Seu advogado mais tarde teve acesso ao seu mandado de prisão, datado de 7 de março – cinco dias após a prisão.

Os agentes espancaram e chutaram outros detidos, disse Igbert José a sua esposa. Eles o mantiveram algemado e encapuzado em uma cadeira por 72 horas. Eles colocaram gás lacrimogêneo dentro do capuz, disse sua esposa, e exigiram o nome de seu "líder". Eles falaram os nomes de sua esposa e filhos, o que considerou uma ameaça implícita.

Henry José também estava sentado em uma cadeira com as mãos algemadas atrás das costas, disse sua esposa. Os agentes o espancaram severamente, deixando hematomas visíveis dias mais tarde. Eles quebraram as costelas de outro detento, ele contou para ela.

Durante a primeira semana de detenção, Henry José e Igbert José não tiveram permissão para entrar em contato com advogados ou familiares, disseram seus familiares. Eles não tinham permissão para tomar banho ou trocar de roupa.

Em 9 de março, os nove foram levados perante um tribunal militar e acusados de traição, instigar uma rebelião e violar o decoro militar. A audiência das 7 horas da noite durou oito horas. Alonso Medina Roa ofereceu assessoria jurídica a Igbert José e Henry José. Mariana Ortega, que integra o Foro Penal, prestou assessoria jurídica a Tamara.

O juiz ordenou que fossem transferidos para prisões militares, embora Igbert José ainda estivesse nos escritórios da DGCIM em Caracas até dezembro.

Durante 65 dias, a família e os advogados de Igbert José não conseguiram ver ou falar com ele. Quando eles finalmente o viram, ele havia perdido 15 quilos. Ele contou que só viu a luz do sol nos dois dias em que foi levado ao tribunal, que frequentemente os guardas não lhe davam seus remédios para a pressão arterial, e que ele comia e defecava em uma sacola em sua cela de 2 por 3 metros. As visitas familiares foram suspensas ou canceladas em várias ocasiões, disse sua esposa.

Henry José passou três meses na superlotada Prisão de Santa Ana, dormindo em uma cama de beliche em um corredor. Agentes da DGCIM invadiram a prisão, ele disse à sua esposa, roubando comida e pertences dos detidos. Ele disse que separou Henry José e um tenente do resto da população carcerária e, à mão armada, forçou-os a se ajoelharem por horas, ameaçando matá-los.

Em 16 de junho, agentes o transferiram para a prisão militar de Ramo Verde, em Caracas, onde ele passou quatro dias com outros dez detentos em uma cela de "punição" de três por dois metros, ele disse à esposa. Ele disse que os 11 prisioneiros comiam, urinavam e defecavam ali.

Na audiência preliminar de agosto, o juiz que presidia a sessão suspendeu a acusação de traição, mas manteve as outras. Em alguns casos, ele manteve apenas a acusação de instigar rebelião.

Os detidos são acusados de pertencer a um grupo que supostamente conspirava contra o governo. Eles também foram acusados de filmar um vídeo pedindo aos membros das forças armadas que participassem de um "movimento de conspiração militar", que seria compartilhado através das redes sociais, disse o advogado de Tamara. O advogado do Foro Penal disse que não há evidências que corroborem essas acusações e nem que o vídeo existe.

Nenhuma data foi marcada para o julgamento.

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