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A ameaça do Zika permanece

Persistem problemas de acesso à agua e saneamento que intensificaram o surto

Esgoto e lixo são despejados diretamente no rio em uma favela no bairro dos Coelhos, Recife, estado de Pernambuco. © 2016 César Muñoz Acebes/Human Rights Watch

 

Segundo o Ministério da Saúde, a emergência de saúde pública decretada no Brasil por causa do vírus Zika acabou.

Mas não devemos declarar vitória sobre o vírus.

O anúncio veio 18 meses depois que o governo declarou o vírus Zika uma emergência nacional, em resposta ao crescente número de bebês nascidos com microcefalia - uma condição em que a cabeça e o cérebro do bebê restam subdesenvolvidos - e outras complicações, conhecidas agora como síndrome congênita do Zika.

Este ano, o número de casos de Zika e o número de bebês nascidos com deficiências ligadas ao vírus diminuiu drasticamente. Ninguém está totalmente certo do motivo. Pode ser que a imunidade tenha crescido na população, que seja decorrência do tempo mais seco e que os esforços das autoridades federais, estaduais e locais para erradicar o mosquito da espécie Aedes – que transmite o vírus – tenham ajudado.

No entanto, a ameaça do Zika não terminou. De fato, as condições subjacentes que permitiram que o surto de Zika se intensificasse no Brasil continuam iguais.

O mosquito da espécie Aedes ainda está presente no Brasil e ainda carrega o Zika e outros vírus graves. A Dengue e chicungunha, também transmitidas pelo Aedes, voltaram a aparecer ao longo dos últimos anos e permanecem uma ameaça constante. E, para entender o quão ruim isto pode ficar, é só observar o terrível surto de febre amarela que houve no Brasil neste ano, doença que pode ser transmitida pelo mesmo mosquito e que já matou pelo menos 240 pessoas desde dezembro.

Lindasselva vive em um barraco de uma favela em Olinda, no estado de Pernambuco. Não há serviços de saneamento e ela tem acesso a água em uma única torneira. Os mosquitos podem se reproduzir e proliferar em água armazenada, caso ela não seja devidamente coberta.  © 2016 César Muñoz Acebes/Human Rights Watch

Problemas de longa data relativos ao acesso à água e saneamento deixam as comunidades vulneráveis ​​a contínuos surtos de Zika ou outras doenças transmitidas por mosquitos. As autoridades brasileiras não investiram o suficiente em sistemas de água e esgoto, deixando muitas comunidades expostas a riscos. As secas no Nordeste estão exacerbando a situação, já que comunidades inteiras perdem acesso a água corrente confiável e não têm escolha senão armazenar água em recipientes, formando despropositadamente potenciais criadouros de mosquitos.

Também não podemos esquecer as milhares de crianças com síndrome do Zika, e seus cuidadores, que precisarão de apoio e cuidados a longo prazo. Muitas famílias com crianças afetadas pelo vírus enfrentam dificuldades para comprar remédios caros, e para elas é impossível manter trabalhos ao mesmo tempo que tem que passar horas cada semana viajando para centros urbanos para que os seus filhos recebam cuidados.

Existe o perigo de que, com o anúncio de ontem, os brasileiros e a comunidade internacional respirem aliviados e se esqueçam do problema. Entretanto, deve-se primordialmente abordar as falhas estruturais que contribuiram para a dimensão da crise do Zika .

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