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© 2025 John Holmes for Human Rights Watch
  • Em 2024, os ataques de drones russos mataram dezenas de civis e feriram centenas na cidade de Kherson, em ataques aparentemente deliberados ou imprudentes que constituem crimes de guerra.
  • Os ataques têm o objetivo aparente de provocar terror na população civil de Kherson, parte de uma ofensiva generalizada contra essa população.
  • Esses ataques ressaltam a urgência de identificar maneiras eficazes de impor o respeito ao direito humanitário internacional, inclusive por meio de processos judiciais de crimes graves na Ucrânia.

(Kiev, 3 de junho de 2025) – As forças russas têm usado repetidamente drones para atacar civis e objetos civis na cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, violando gravemente as leis de guerra, disse a Human Rights Watch em um relatório divulgado hoje.

O relatório de 93 páginas (em inglês), “Caçados do alto: o uso de drones pela Rússia para atacar civis em Kherson, Ucrânia” “(Hunted From Above: Russia's Use of Drones to Attack Civilians in Kherson, Ukraine”) e um artigo multimídia que o acompanha, documentam como as forças russas parecem estar deliberada ou imprudentemente realizando ataques contra civis e objetos civis com drones que em sua maioria são dispositivos baratos disponíveis comercialmente. Os ataques espalham o terror entre a população civil, fazendo com que as pessoas tenham medo de sair de casa. Já causaram o despovoamento das duas áreas que estão sendo visadas em Kherson.

“Os operadores de drones russos são capazes de rastrear seus alvos, com imagens de vídeos de alta resolução, deixando pouca dúvida de que a intenção é matar, mutilar e aterrorizar civis”, disse Belkis Wille, diretora adjunta da divisão de crises, conflitos e armas da Human Rights Watch. “Eles exemplificam por que a comunidade internacional precisa apoiar todas as vias de responsabilização para garantir justiça para as vítimas dos crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pela Rússia na Ucrânia.”

A Human Rights Watch entrevistou 36 sobreviventes e testemunhas de ataques de drones russos em Kherson e analisou 83 vídeos de ataques de drones enviados, muitas vezes com legendas, para canais do Telegram afiliados aos militares russos, bem como vídeos e fotografias tirados por testemunhas e compartilhados com pesquisadores. Por meio desses vídeos, a Human Rights Watch confirmou que as forças russas usaram drones quadricópteros disponíveis comercialmente, fabricados por duas empresas de drones comerciais com sede na China, DJI e Autel, e um modelo fabricado por uma entidade russa, Sudoplatov, que se descreve como uma organização voluntária.

Tanto a DJI quanto a Autel responderam a cartas da Human Rights Watch, reconhecendo denúncias de que seus drones estavam sendo usados pelas forças russas para fins de combate. Elas enfatizaram que tal uso era incompatível com as políticas das empresas e forneceram informações sobre as medidas que tomam para evitar que seus drones sejam potencialmente usados para tais fins. A Sudoplatov e o governo russo não responderam.

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How Russia Uses Quadcopter Drones to Hunt and Kill Civilians in Kherson, Ukraine

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A Human Rights Watch documentou pelo menos 45 ataques deliberados com drones realizados pelas forças russas de junho a dezembro de 2024 contra civis e objetos civis, incluindo serviços de saúde e outros bens e serviços essenciais nos bairros de Antonivka e Dniprovskyi, em Kherson. Entre maio e dezembro, os ataques de drones em Kherson resultaram em quase 500 feridos civis e 30 mortos, de acordo com o Comitê Executivo do Conselho Municipal de Kherson. Os ataques continuam.

Os ataques com drones foram responsáveis por 70% das mortes de civis registradas em Kherson em janeiro de 2025 pela Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos das Nações Unidas na Ucrânia.

As forças russas usaram drones para atacar civis enquanto eles estavam caminhando, andando de bicicleta, dirigindo carros, usando o transporte público para ir e voltar do trabalho, e em suas casas. Alguns moradores disseram que tentaram se esconder ou fugir de um drone que os seguiu por vários minutos.

Drones operados pela Rússia têm como alvo instalações de saúde e ambulâncias e seus profissionais, incluindo equipes de resgate que respondem a ataques de drones contra civis. Equipes de ambulância disseram que seus profissionais não conseguiam mais atender chamadas em algumas áreas por medo de ataques de drones. Em vez disso, equipes policiais em veículos blindados tiveram que transportar feridos para instalações médicas.

As forças russas também realizaram ataques com drones contra supermercados e veículos que entregavam produtos nas lojas, forçando o fechamento de quase todas as lojas nas áreas afetadas. Os ataques de drones à infraestrutura de gás, água e eletricidade – e aos trabalhadores municipais que tentavam reparar os danos – limitaram ainda mais o acesso dos moradores a serviços básicos.

As forças russas armaram drones quadricópteros com minas terrestres antipessoais proibidas internacionalmente, que foram espalhadas nos bairros de Kherson. As minas antipessoais PFM estão contaminando áreas e ferindo civis. Esses ataques têm dificultado os esforços de remoção de minas terrestres e outros resíduos explosivos de guerra.

O grande impacto dessa campanha tem sido forçar as pessoas a deixar a área. Entre maio e dezembro de 2024, a população de Antonivka diminuiu quase pela metade, de acordo com o Comitê Executivo do Conselho Municipal de Kherson.

Os que permanecem, em sua maioria idosos e pessoas que não conseguem sair facilmente, têm medo de deixar suas casas. Eles dizem que, quando saem, estão constantemente prestando atenção ao zumbido dos drones, examinando a área ao seu redor em busca de possíveis esconderijos sob as árvores e procurando minas terrestres que possam ter sido lançadas durante os ataques dos drones.

Esses ataques a civis são violações graves das leis de guerra que, quando cometidas com intenção criminosa, constituem crimes de guerra. A Human Rights Watch também constatou que esses ataques a civis em Kherson usando drones quadricópteros armados constituem aparentes crimes contra a humanidade. Os ataques resultaram no assassinato intencional ou infligiram graves lesões à saúde física ou mental. Foram conduzidos como parte de um ataque generalizado contra a população civil em Kherson e parecem ser o resultado de uma política do governo russo. Examinado em sua totalidade e ao longo do tempo, o padrão de ataques parece fazer parte de uma aparente estratégia russa cujo objetivo principal tem sido espalhar o terror entre a população civil.

A capacidade das forças russas de armar drones relativamente baratos e comercialmente disponíveis para realizar ataques ilegais ressalta a urgência de identificar formas eficazes de impor o respeito ao direito internacional humanitário, inclusive por meio de processos por crimes de guerra, disse a Human Rights Watch. Os governos também deveriam trabalhar com as empresas de drones comerciais para desenvolver e implementar salvaguardas para evitar ou minimizar o uso de drones para fins de combate ilegal.

“Os ataques em Kherson constituem um estudo de caso impressionante sobre como é a vida quando civis estão sendo caçados do alto com uma assustadora precisão”, disse Wille. “É alarmante que esses ataques ilegais possam ser realizados com o armamento de drones relativamente baratos e comercialmente disponíveis: Kherson deveria servir como um alerta do que a vida dos civis pode se tornar em áreas de conflito em todo o mundo se o respeito ao direito internacional humanitário não for aplicado.”

“Caçados do alto: o uso de drones pela Rússia para atacar civis em Kherson, Ucrânia” (Hunted From Above: Russia's Use of Drones to Attack Civilians in Kherson, Ukraine”) está disponível em inglês em:

https://www.hrw.org/report/2025/06/02/hunted-above/russias-use-drones-attack-civilians-kherson-ukraine

O artigo multimídia “Ouça, corra, esconda-se: como a Rússia usa drones quadricópteros para caçar e matar civis em Kherson, Ucrânia” (Listen, Run, Hide: How Russia Uses Quadcopter Drones to Hunt and Kill Civilians in Kherson, Ukraine”) está disponível em inglês em:

https://www.hrw.org/feature/2025/03/03/death-above/how-russia-using-modified-commercial-drones-target-hunt-terrorize

Casos selecionados

Em 28 de setembro, Anastasia Pavlenko, de 23 anos, andava de bicicleta pela estrada principal entre Antonivka e Kherson. “De repente”, disse ela, ‘vi um drone decolar de um telhado e começar a me perseguir’. O drone seguiu Pavlenko por quase 300 metros. Ela disse que ainda estava em sua bicicleta e a menos de 100 metros da ponte de Antonivka quando “o drone lançou uma granada. Fui ferida no pescoço, na perna esquerda e embaixo da costela”. Em estado de choque, Pavlenko continuou em direção à passagem subterrânea. “Eu ainda estava andando de bicicleta, coberta de sangue e com os pneus furados.”

No dia seguinte, um vídeo mostrando o ataque a Pavlenko foi enviado a um canal de telegram afiliado aos militares russos. A legenda é a seguinte:

Soldados das Forças Armadas da Ucrânia andam de bicicleta. Esse personagem foi eliminado com precisão... A evacuação [médica] não tem permissão para se aproximar.

Quando a Human Rights Watch conversou com Pavlenko no final de novembro, ela havia se mudado para outra cidade e disse que ainda tinha um fragmento de metal no pescoço que os cirurgiões não puderam remover devido à sua posição. Pavlenko passou sete dias no hospital. Desde então, ela não voltou mais a Kherson. “Se não fossem os drones, eu ainda estaria morando lá”, disse ela.

Tetiana Kravchuk, uma advogada de Antonivka, disse que saiu de casa a pé em 30 de outubro de 2024, às 6h30 da manhã, para alimentar o cachorro de seu vizinho. Kravchuk verificou se havia minas terrestres na rua. Quando estava voltando para sua casa, ouviu um drone. Kravchuk disse:

Ele estava atrás de mim, me perseguindo. Tentei me esconder entre as árvores. Ouvi o drone circulando em volta da árvore, chegando cada vez mais perto. O drone estava quatro metros acima de mim. Então houve uma explosão.

Kravchuk disse: “Liguei para meu filho e disse a ele que um drone havia me atacado e que minha perna estava ferida”. Seu filho a levou ao hospital, onde ela foi operada e passou seis dias internada. Quando a Human Rights Watch entrevistou Kravchuk no final de novembro, ela ainda estava em tratamento, após o qual deveria começar seis meses de reabilitação.

Em 28 de outubro, às 20 horas, Volodymyr Pavlyuk, de 64 anos, motorista de ambulância, juntamente com o Dr. Serhiy Kucherenko, de 64 anos, e uma assistente médica, Viktoria Zhogha, de 40 anos, responderam a uma chamada em Antonivka, onde duas pessoas tinham ferimentos nas pernas causados por uma munição lançada por drone.

Após a chegada da equipe, enquanto estavam perto da ambulância, Zhogha ouviu um drone e gritou: “Drone! Drone!” Ela disse: “Comecei a chamar o médico e tentei me esconder, mas não sabia onde. Estava muito escuro. Estávamos em pânico. No último segundo, tentei entrar na ambulância”. A explosão ocorreu naquele momento.

Pavlyuk encontrou os dois colegas feridos. “Havia uma poça de sangue ao redor de Serhiy [Dr. Kucherenko] e ele estava em silêncio”, disse ele. Vika [Zhogha] tinha ferimentos na perna.” Pavlyuk sofreu uma concussão e danos auditivos. A explosão também danificou a ambulância.

Pavlyuk pôs os dois colegas e um civil ferido na ambulância, colocando o segundo civil no banco da frente. Ele dirigiu até um local mais seguro, embaixo de uma árvore, para esperar por outra ambulância. Mais tarde, o médico foi declarado morto no hospital.

Zhogha sofreu ferimentos por fragmentação nas duas pernas, no quadril direito e no estômago.

A Human Rights Watch verificou um vídeo de drone postado em um canal do Telegram afiliado aos militares russos que mostra o ataque. O primeiro clipe parece mostrar o ataque que feriu as duas pessoas a quem Pavlyuk e sua equipe estavam respondendo. O clipe começa com um drone voando e depois pairando sobre uma árvore perto de algumas casas. No segundo clipe, um drone está voando para o mesmo local e paira sobre a ambulância. Uma munição é visível, caindo em direção ao grupo de pessoas por alguns instantes antes de ocorrer uma explosão perto da parte frontal direita do veículo.

Serhii Dolhov, de 50 anos, mora em Dniprovske, oito quilômetros a oeste de Kherson. Em 3 de novembro, ele estava caminhando perto de seu prédio quando pisou em uma mina antipessoal PFM que explodiu. Seu pé esquerdo foi quase completamente cortado pela explosão e sua perna direita foi ferida por fragmentos de plástico. Dolhov disse: “Eu andava muito nessa área, então a mina deve ter aparecido ali talvez dois ou três dias antes. Estou sempre olhando para cima em busca de drones, não estava olhando para baixo em busca de minas”.

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