O presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na semana passada no qual afirmou ter adotado todas as medidas necessárias para conter a pandemia de Covid-19. Enquanto ele falava, milhares de brasileiros faziam panelaços em suas janelas em desacordo - com razão.
O sistema nacional de saúde do Brasil está à beira de um colapso: unidades de terapia intensiva em todo o país estão no limite ou próximo ao limite de suas capacidades: 24 estados têm uma taxa de ocupação de UTIs superior à 80 por cento, em 19 estados a taxa é de 90 por cento ou mais e em 6 estados excede 100 por cento. A imprensa tem noticiado que pessoas estão morrendo na espera por leitos de UTI.
Na semana passada, cerca de um quarto de todos os óbitos de Covid-19 no mundo ocorreram no Brasil. E o país bateu outro recorde em 26 de março: mais de 3.600 mortes em um período de 24 horas. Um estudo estima que o país pode chegar a 5 mil óbitos por dia entre abril e maio.
Como o país chegou nesse caos devastador?
Desde que Covid-19 foi declarada uma pandemia, o Presidente Bolsonaro minimizou a ameaça, promoveu aglomerações e vetou uma lei que tornava obrigatório o uso de máscaras em escolas, comércios e prisões. Ele inclusive tentou fazer com que o Supremo Tribunal Federal impedisse governadores e prefeitos de impor regras de distanciamento social.
Em vez de incentivar o uso de máscaras e o distanciamento social, medidas indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o governo brasileiro investiu em medicamentos que afirmava, sem evidências científicas, prevenir ou curar a Covid-19. Soma-se a isso o surgimento de uma nova variante do vírus ainda mais contagiosa e a baixa disponibilidade de vacinas - apenas 7% dos brasileiros receberam a primeira dose - e é fácil entender como o Brasil chegou a esta situação tão terrível.
O direito internacional dos direitos humanos garante a todos o direito ao mais alto padrão de saúde possível e obriga os governos a tomar medidas para prevenir ameaças à saúde pública e garantir o acesso aos cuidados de saúde para aqueles que deles necessitam.
Sem a colaboração significativa entre todas as autoridades, incluindo todos os governadores, e sem adesão às recomendações da OMS, mais milhares de famílias brasileiras provavelmente perderão seus entes queridos. O Bolsonaro precisa começar a ouvir ciência e colocar a vida dos brasileiros em primeiro lugar.