Milhares de indígenas, representando povos da Amazônia e outras regiões do Brasil, se reuniriam amanhã em Brasília para o tradicional Acampamento Terra Livre em defesa de seus direitos. Contudo, decidiram permanecer em suas aldeias para se proteger da Covid-19. Mas sua mensagem às autoridades, agora transmitida virtualmente, é mais urgente do que nunca.
Mesmo quando a pandemia freia a economia, o garimpo e o desmatamento ilegal em terras indígenas na Amazônia permanecem a todo vapor.
O garimpo de ouro ao longo do rio Tapajós desacelerou por um tempo com as notícias sobre o coronavírus, mas agora está de volta. Barcos sobem e descem o rio com abastecimento para garimpos ao longo de suas margens, um residente contou à Human Rights Watch. E mais próximo à fronteira com a Venezuela, garimpeiros que invadiram o território Yanomami avançam suas escavações.
Invasões de terras estimulam o desmatamento na Amazônia. O enfraquecimento da fiscalização permite o avanço de redes criminosas e outros indivíduos buscando ilegalmente madeira, minerais e outras riquezas.
Territórios indígenas estão cada vez mais vulneráveis. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) registrou 160 casos de invasões para se apropriar da terra, exploração ilegal de recursos naturais e outros danos em terras indígenas no Brasil de janeiro a setembro de 2019 — e mais outros tantos podem estar subnotificados. O desmatamento em áreas indígenas na Amazônia subiu 65 por cento entre agosto de 2018 e julho de 2019, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Cientistas alertam que desmatamento, queimadas e mudança climática podem levar a Amazônia a um "ponto de inflexão", no qual a floresta tropical deixará de produzir chuva suficiente para sobreviver, liberando grandes quantidades de carbono na atmosfera.
Com a pandemia, algumas autoridades podem argumentar que agora não é o momento de intensificar os esforços para proteger os territórios indígenas. Mas o Brasil pode proteger a saúde pública enquanto aplica suas leis, e isso não é algo que possa adiar. Com as consequências devastadoras que a destruição da floresta terá para todo o país — e o mundo — é tão injusto quanto negligente deixar povos indígenas e outras comunidades sozinhos nesta luta.