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Angola: Investigar os abusos cometidos no passado

Há um ano no cargo, o presidente João Lourenço tem o dever de promover a justiça

O Presidente João Lourenço, de Angola, durante a 10ª Cúpula dos BRICS em Joanesburgo, África do Sul, em 26 de julho de 2018. © 2018 Vladimir Astapkovich / Sputnik via A
 

(Joanesburgo) - O presidente angolano , João Lourenço, deve assinalar o primeiro aniversário do seu mandato instruindo o governo a investigar as violações de direitos humanos cometidas pelas forças de segurança do Estado no passado, afirmou hoje a Human Rights Watch. 

Nos primeiros 12 meses do governo de João Lourenço houve reformas significativas e ações visíveis contra a corrupção. Vários ex-oficiais do governo e do partido no poder, incluindo familiares do presidente anterior, José Eduardo dos Santos, estão atualmente sob investigação ou detidos por alegações de corrupção. Mas o presidente mantém o silêncio sobre o papel do exército e da polícia nos graves abusos cometidos nos últimos anos, incluindo no massacre do Huambo em 2015 e nas alegações de execuções extrajudiciais.

"O Presidente Lourenço deve garantir justiça às vítimas dos abusos cometidos pelas forças de segurança de Angola", disse Dewa Mavhinga, diretor da Human Rights Watch para a África Austral. "Os responsáveis ​​por estas graves violações dos direitos humanos não podem fugir à justiça."

Há muitos anos que as forças de segurança de Angola empregam força desnecessária ou excessiva sem serem devidamente punidas. O governo não investigou nem processou adequadamente os oficiais que cometeram violações graves de direitos humanos. Num dos incidentes mais graves, as autoridades recusaram os pedidos do alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos para que fosse criada uma comissão independente para investigar o alegado massacre dos fiéis de uma seita religiosa na província do Huambo.

Em 16 de Abril de 2015, eclodiram confrontos entre a polícia do Huambo e os fiéis de uma seita religiosa, quando as autoridades tentaram deter o líder da seita, Julino Kalupeteka, para ser interrogado sobre alegações de que havia encorajado os seus seguidores à desobediência civil. Kalupeteka era o líder de uma fação dissidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia e acreditava que o mundo iria terminar em 2015. O pastor encorajou os fiéis a abandonarem as suas vidas e a retirarem-se para um acampamento isolado.

Segundo as autoridades angolanas, os guarda-costas de Kalupeteka atacaram os agentes da polícia com armas de fogo e catanas quando estes tentaram deter o líder e, em resposta, os agentes mataram 13 dos seguranças. Mas grupos da oposição e ativistas disseram que após o confronto inicial – que resultou na morte de polícias – agentes da polícia e soldados do exército decidiram "vingar" as mortes, matando centenas de seguidores desarmados da seita, incluindo alguns dos guarda-costas de Kalupeteka. Em Abril de 2016, Kalupeteka e nove dos seus fiéis foram condenados a penas de prisão de até 28 anos pelo assassinato dos agentes da polícia. No entanto, até ao momento, não foi detido nem julgado nenhum membro das forças de segurança pelo assassinato dos membros da seita.

A polícia angolana também foi implicada em diversos casos de execuções extrajudiciais em todo o país. Um vídeo de Junho parece mostrar um agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC) angolano a apontar uma espingarda de assalto a um homem deitado na estrada, incapaz de se levantar. Alguns minutos depois, chega à cena outro agente com um revólver, que dispara vários tiros contra o homem deitado. O Ministério do Interior condenou as ações dos agentes como "ignóbeis" e comprometeu-se a tomar medidas disciplinares contra os mesmos, sem fornecer, no entanto, mais detalhes.

O jornalista de investigação e ativista de direitos humanos, Rafael Marques, documentou dezenas de execuções extrajudiciais por parte das forças de segurança angolanas. Um relatório de Fevereiro publicado no site Maka Angola, descreve 50 casos de assassinatos de jovens suspeitos de atividades de gangue ou pequenos crimes que são atribuídos a "esquadrões da morte" ligados ao Serviço de Investigação Criminal. As autoridades prometeram investigar os casos, mas os resultados da investigação, caso haja alguns, ainda não foram divulgados.

De acordo com o direito internacional, Angola tem o dever de conduzir investigações imparciais e processar adequadamente quaisquer violações graves dos direitos humanos. Os governos não só têm o dever de proteger os seus cidadãos de tais violações, mas também de investigá-las sempre que ocorrem, bem como de levar os responsáveis ​​à justiça.

"As autoridades angolanas não devem varrer os abusos dos direitos humanos para baixo do tapete, em nome da estabilidade política e da segurança", disse Mavhinga. "O presidente João Lourenço deve enviar uma mensagem clara de que está empenhado em melhorar o histórico de direitos humanos do país e de que não tolerará quaisquer abusos por parte das forças de segurança".

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