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Colômbia: abusos trabalhistas e exploração sexual em estúdios de Webcam

Plataformas dos EUA e da UE deveriam agir urgentemente para prevenir abusos de trabalhadores

© 2024 Rebecca Hendin para Human Rights Watch
  • Modelos de webcam na Colômbia relataram condições de trabalho abusivas, insalubres e coerção para realizar atos sexuais não consensuais enquanto trabalham em estúdios que transmitem conteúdo em plataformas de visualização para adultos em todo o mundo.
  • A maioria nunca tinha visto ou assinado os termos de serviço de qualquer plataforma onde seus conteúdos foram transmitidos, expondo-os ao roubo de salários e à exploração por parte dos estúdios.
  • Plataformas de webcam para adultos deveriam agir para proteger os modelos de estúdio e abordar imediatamente os abusos nas cadeias de suprimentos.

(Nova York) - Modelos de webcam na Colômbia relatam graves abusos cometidos por estúdios que produzem conteúdo para a bilionária indústria de webcam para adultos, disse a Human Rights Watch em um relatório divulgado hoje. Os modelos relatam condições insalubres, turnos de 18 horas sem intervalos e coerção para fazer performances sexuais que consideram degradantes, traumatizantes ou fisicamente dolorosas.

O relatório de 185 páginas, em inglês, “‘I Learned How to Say No’: Labor Abuses & Sexual Exploitation in Colombian Webcam Studios” (“‘Aprendi a dizer não’: Abusos trabalhistas e exploração sexual em estúdios de webcam colombianos”, expõe as condições de trabalho em estúdios de webcam em Bogotá, Cali, Medellín e Palmira, onde os modelos gravam conteúdos transmitidos por plataformas adultas e transmitido em todo o mundo. Webcamming é uma indústria global na qual estudos estimam que as plataformas ficam com 50 a 65% do que os espectadores pagam. Pessoas entrevistadas disseram que os estúdios retêm até 70% do que é pago pela plataforma, reduzindo a remuneração dos trabalhadores. As plataformas de webcam para adultos sediadas nos Estados Unidos e na Europa deveriam abordar imediatamente os abusos trabalhistas e a exploração sexual nos estúdios de webcam colombianos.


 “Profissionais do sexo merecem as mesmas proteções trabalhistas que todos os trabalhadores, de acordo com as leis internacionais de direitos humanos, mas a indústria bilionária de webcams tem evitado amplamente o escrutínio em relação aos abusos em suas cadeias de fornecimento”, disse Erin Kilbride, pesquisadora da Human Rights Watch e autora do relatório. “As plataformas de webcam têm a responsabilidade de identificar, mitigar e prevenir abusos de direitos humanos por parte dos estúdios e deveriam  implementar reformas em conformidade com as suas obrigações internacionais de direitos humanos.”

Em colaboração com as organizações de direitos de trabalhadores do sexo, La Liga de Salud TransCorporación Calle 7 Colombia, pesquisadores da Human Rights Watch passaram 18 meses investigando estúdios de webcam para adultos na Colômbia, incluindo entrevistas com 55 trabalhadores sexuais com experiência na indústria. 

 Trabalhadores relataram que trabalham em cubículos pequenos e confinados, com falta de ventilação, infestados de percevejos e baratas. Alguns relataram abusos verbais, físicos e sexuais por parte da gerência do estúdio e coerção para realizar atos sexuais com os quais não consentiram. As condições de trabalho incluem roubo de salário, multas por fazer intervalos para se alimentar e usar o banheiro, além de teclados, mouses e móveis cobertos de fluidos corporais de outros funcionários. Os trabalhadores desenvolveram erupções cutâneas e infecções e enfrentaram a ausência de suporte de saúde mental.

Uma mulher trans boliviana de 29 anos, que trabalhava em um estúdio em Bogotá, disse que quando pediu ao seu gerente para encerrar uma performance de penetração devido à dor extrema, “[ele] disse que se eu parasse, prejudicaria a avaliação, então tive que continuar”. Outro modelo contou aos pesquisadores uma experiência aterrorizante na qual foi pressionado a inserir uma garrafa de vidro em si mesmo, temendo que ela quebrasse. 

 

A maioria disse que queria economizar dinheiro para comprar seu próprio equipamento e fazer streaming em casa, onde poderiam controlar melhor seus horários e performances. No entanto, os modelos relatam que os estúdios frequentemente se recusam a ceder o controle das contas, forçando-os a começar do zero se quiserem deixar o estúdio.

 

Embora todos os entrevistados sejam adultos, vários relatam que os estúdios permitiram que eles começassem a trabalhar quando eram adolescentes, violando as restrições de idade das plataformas ao “reciclar” contas registradas em nome de modelos adultos que já não trabalhavam mais ali. As plataformas deveriam analisar, revisar ou adotar processos robustos e responsivos para garantir que os trabalhadores mantenham a propriedade total de suas próprias contas, ajudando a prevenir violações das restrições de idade que levam ao envolvimento de crianças no setor.

Quarenta e nove dos 50 modelos entrevistados disseram que não viram nem assinaram os termos de serviço de nenhuma plataforma na qual transmitiam. A maioria disse que os estúdios criavam suas contas, o que, segundo eles, incluía “aceitar” os termos de serviço em seu nome. Isso deixou os modelos sem informações essenciais para garantir que fossem pagos de forma justa e assim eles não podiam tomar decisões informadas sobre suas horas de trabalho, intervalos e quais solicitações de clientes aceitar. Em alguns casos, isso contribuiu para que os modelos sofressem roubo de salário, coerção sexual e exploração trabalhista por parte dos estúdios. 

 Os modelos disseram que os gerentes dos estúdios usam a ameaça de banimento da conta ou de diminuição do tráfego para pressioná-los intensamente a trabalhar longas horas sem comida ou água e a realizar atos sexuais com os quais não consentiram.

A Human Rights Watch analisou as políticas das plataformas BongaCams, Chaturbate, LiveJasmin e Stripchat, quatro das plataformas mais usa usadas pelos entrevistados. Com base nessa análise, essas plataformas podem necessitar de protocolos mais abrangentes de devida diligência de direitos humanos para abordar riscos relacionados à saúde ocupacional, segurança, saneamento e condições de trabalho nos estúdios.

A Human Rights Watch entrou em contato com as quatro plataformas para comentários. BongaCams, Chaturbate e Stripchat forneceram políticas e medidas que tomam para identificar e prevenir o tráfico de pessoas e o abuso sexual infantil, mas negaram a responsabilidade por outros abusos trabalhistas ocorridos em estúdios em suas cadeias de fornecimento, como condições insalubres e negação do direito ao descanso. As respostas de BongaCams, Chaturbate e Stripchat estão anexadas ao relatório.

Todos os modelos entrevistados disseram que escolheram trabalhar como modelos de webcam e que não foram forçados ou coagidos a fazê-lo. Ao mesmo tempo, todos relataram que se sentiram surpresos, enganados ou ludibriados sobre várias condições de seu trabalho, inclusive o valor do pagamento, os atos sexuais que deveriam realizar ou a higienização do estúdio. Para alguns, a impossibilidade de levar sua conta ao sair, , agravada por pequenas dívidas que acumularam na loja do estúdio ou enquanto moravam no estúdio, também dificultou a possibilidade de deixarem o trabalho.

A Human Rights Watch não defende a criminalização da indústria de webcam ou dos estúdios; em vez disso, os pesquisadores trabalham com organizações de profissionais do sexo e defensores dos direitos dos profissionais do sexo para identificar medidas concretas que as plataformas, os estúdios e o governo deveriam  tomar para combater abusos e eliminar a exploração.

“A exploração sexual não é inerente ao trabalho como modelo de webcam, mas nossa pesquisa indica que o risco de exploração em estúdios colombianos é extremamente alto”, disse Kilbride. “As plataformas têm o poder e a responsabilidade de lidar com os abusos cometidos pelos estúdios. Elas precisam rever suas políticas e implementar padrões abrangentes para os estúdios com os quais trabalham, com base na experiência dos próprios profissionais do sexo.” 

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