Nos últimos dois anos, um status quo sombrio se estabeleceu na Síria: uma economia em ruínas, uma nação fragmentada e os perigos contínuos que os refugiados enfrentam no retorno forçado para casa.
No entanto, no período que antecedeu o 11º aniversário da revolução síria, houve alguns indícios isolados de otimismo. Os julgamentos em Koblenz, na Alemanha, por exemplo, levaram um ex-oficial do regime de Assad à justiça no início deste ano. Os sírios estão observando a condenação internacional rápida e generalizada da invasão russa à Ucrânia com um sentimento de reivindicação, enquanto testemunham países coordenando uma oposição rigorosa ao aliado do presidente sírio Assad, o presidente Vladimir Putin, à medida que as forças russas cometem ataques ilegais, matando e ferindo civis.
“A Ucrânia é uma causa síria”, escreveu recentemente o reconhecido intelectual sírio Yassin al-Haj Saleh.
Imagens recentes da Ucrânia mostram que a destruição causada pelos ataques russos se assemelham com os que ocorream em Daraa e Homs. Vídeos em redes sociais que mostram ataques possivelmente ilegais a hospitais e áreas residenciais são lembranças assustadoras das ofensivas aéreas brutais cometidas pela aliança russo-síria em Aleppo e Idlib desde 2015. Como Saleh observou, “os sírios que se opõem ao presidente Bashar al-Assad podem ficar atrás apenas dos próprios ucranianos quando se trata de todos os horrores da guerra que o regime de Vladimir Putin está travando na Ucrânia”.
Apesar da diferença de tratamento na mídia e na urgência com que os países responderam à Ucrânia em comparação com a Síria, o amplo comprometimento de ativistas e grupos da sociedade civil com os direitos fundamentais e a solidariedade com outras pessoas que enfrentam repressão não foi abalado. Ativistas e refugiados sírios muitas vezes estão entre os primeiros a demonstrar solidariedade com outras pessoas que enfrentam crises - e nas últimas três semanas não foi diferente. A organização humanitária síria White Helmets (em português, Capacetes Brancos), que alega ter salvo a vida de milhares de sírios por meio de seus esforços de resgate, expressou recentemente sua prontidão para atuarem como voluntários na Ucrânia.
Eventos recentes mostraram que o mundo é capaz de se mobilizar para se opor a agressores brutais, que os países podem dispensar suas regulamentações de vistos para pessoas que necessitam fugir de conflitos e que os refugiados podem ser recebidos com compaixão. Portanto, mesmo que o mundo tenha, muitas vezes, abandonado os sírios para enfrentar ataques de vários abusivos atores armados, este momento deve servir como um lembrete de que a experiência dos sírios com graves violações de direitos é a mesma sofrida pelos ucranianos e que eles também merecem as mesmas proteções e apoio de forma contínua.
Maya Ghazi é um pseudônimo usado para proteger a identidade de uma pessoa funcionária da Human Rights Watch.