(São Paulo) – As autoridades brasileiras devem garantir uma investigação imediata, completa e independente sobre o homicídio de um policial militar no estado do Pará no dia 20 de janeiro de 2017, e sobre a onda de execuções possivelmente retaliatórias que se seguiram, disse hoje a Human Rights Watch.
Rafael da Silva Costa, 29, membro da Ronda Tática Metropolitana (Rotam), foi morto no dia 20 de janeiro na cidade de Belém durante uma troca de tiros com suspeitos. Entre a sua morte e o meio dia do dia seguinte, 30 pessoas foram assassinadas na região metropolitana de Belém. Autoridades do estado afirmaram que 25 desses homicídios aparentam ter sido execuções e podem ter sido uma resposta ao assassinato do policial Costa.
“Todo homicídio de policiais merece uma resposta rápida e séria, mas execuções como forma de retaliação são completamente inaceitáveis e espalham o terror por comunidades inteiras”, disse Maria Laura Canineu, diretora do escritório Brasil da Human Rights Watch. “Todas essas mortes devem ser minuciosamente investigadas e punidas dentro dos limites da lei”.
As vítimas parecem ter sido escolhidas aleatoriamente, de acordo com os relatos de testemunhas à imprensa local. Em vários casos, homens foram assassinados por tiros disparados do interior de carros. Em um dos casos, homens encapuzados abriram fogo dentro de um bar, ferindo cinco pessoas. Uma delas, um homem de 21 anos, foi executada enquanto ferido no chão, sua mãe contou à imprensa.
Em 2015, 26 policiais foram mortos no Pará e 180 pessoas foram mortas por policiais em serviço ou fora de serviço, de acordo com os últimos dados oficiais compilados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma organização não-governamental.
Nos últimos anos, policiais de vários estados têm se envolvido em chacinas. No estado do Pará, 10 pessoas foram executadas em novembro de 2014 após o homicídio de um policial que liderava uma milícia, conforme concluiu uma investigação da Assembleia Legislativa do estado. Promotores denunciaram 14 policiais militares por não prestarem auxílio às vítimas e na não perseguirem os assassinos.
No estado do Amazonas promotores alegam que um grupo de 12 policiais responsável pelo assassinato de traficantes para roubar drogas e armas usou a morte de um policial militar como pretexto para matar mais 8 pessoas em julho de 2015.
Em São Paulo, membros do Ministério Público denunciaram três policiais militares e um guarda municipal de fazerem parte de uma milícia que assassinou 18 pessoas em retaliação à morte de um policial militar e um guarda municipal em agosto de 2015. No estado do Ceará, promotores denunciaram 44 policiais pelo envolvimento nas mortes de 11 pessoas – incluindo 7 adolescentes – após o homicídio de um policial.