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À sombra da COP30, o Brasil retira proteções da floresta amazônica

Autoridades planejam dividir área protegida da Amazônia

Cleve Gonçalves da Silva anda de moto por uma estrada de terra escorregadia, no projeto de desenvolvimento sustentável (PDS) Terra Nossa, no Pará, na Amazônia brasileira, em 11 de novembro de 2024. Grileiros invadiram o assentamento, derrubaram ilegalmente a floresta, estabeleceram fazendas de gado e ameaçaram Cleve e outros que se opuseram a eles.  © 2024 Thaís Farias para a Human Rights Watch

Enquanto a cidade de Belém se prepara para sediar a cúpula climática global COP30 em novembro, em outro canto do estado do Pará, uma agência do governo federal planeja entregar uma grande área da floresta amazônica a fazendas de gado ilegais.

A área em questão, conhecida como Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Terra Nossa, foi criada em 2006 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O objetivo era proporcionar meios de subsistência sustentáveis que tirassem as famílias da pobreza e, ao mesmo tempo, preservassem a floresta amazônica. A maior parte dos 150 mil hectares do assentamento deveria permanecer como floresta, fonte de valiosos produtos naturais, enquanto o restante seria disponibilizado para os moradores construírem casas ou usarem para agricultura.

No entanto, desde que o assentamento foi criado, ele tem sido alvo de grileiros que estabeleceram fazendas de gado ilegais, desmatando e ateando fogo em grandes áreas da floresta, assim como em plantações de moradores. Os moradores que enfrentaram os fazendeiros sofreram retaliações violentas.

De acordo com o INCRA, metade do assentamento é controlada por 37 fazendas ilegais que ocupam várias parcelas em grandes propriedades.

Como resultado, o INCRA agora planeja dividir Terra Nossa em três partes: uma parte permaneceria como o assentamento Terra Nossa; uma segunda parte seria transformada em um assentamento comum (sem uma finalidade específica de conservação ambiental); e a terceira parte não teria proteção alguma.

Se aprovada, essa proposta poderia abrir caminho para a regularização de ocupações ilegais de terras, conforme alertou a Human Rights Watch ao presidente do INCRA em uma carta recente.

Em resposta à carta, o INCRA reconheceu a importância de combater o crime organizado que está causando destruição ambiental e violência em Terra Nossa, mas, contraditoriamente, confirmou que seus planos de reduzir o assentamento iriam adiante.

Ainda há tempo para salvar o PDS Terra Nossa. Se isso não for feito, os únicos beneficiados serão os criminosos que estão devastando as florestas do Brasil e aterrorizando seus moradores.

O presidente do INCRA deveria rejeitar um plano que legitimaria a ocupação ilegal de terras e desconsideraria os atos de violência praticados. Se ele decidir não fazê-lo, o Ministério Público Federal deveria adotar medidas legais para proteger os moradores do PDS Terra Nossa e seus direitos à terra. Essa é uma maneira crucial de o Brasil alinhar suas ações e sua retórica antes da COP30.

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