Ao se encontrar com o Presidente Jair Bolsonaro pela primeira vez, na Cúpula das Américas, na noite de 9 de junho, o presidente dos EUA, Joe Biden, fez um constrangedor elogio à gestão de Bolsonaro na Amazônia, o que foi, no mínimo, uma afronta a tantos brasileiros que lutam para proteger a floresta.
Desde que Bolsonaro tomou posse em 2019, dezenas de milhares de hectares de floresta amazônica foram destruídos, inclusive dentro de vários territórios indígenas que têm enfrentado intensas invasões por madeireiros ilegais e garimpeiros.
O governo Bolsonaro prejudicou o trabalho das agências brasileiras de fiscalização ambiental, ao mesmo tempo que afastou a sociedade civil da formulação de políticas públicas na área ambiental. O presidente chegou a acusar, falsamente, organizações da sociedade civil e ambientalistas de cometerem crimes ambientais. Seu governo tem mantido uma postura hostil aos direitos dos povos indígenas, apoiando uma série de iniciativas legislativas que arbitrariamente restringiriam os direitos dos povos indígenas sobre seus territórios, os quais abrigam as florestas melhor protegidas da Amazônia. Bolsonaro sequer demarcou um único território indígena desde que tomou posse, apesar de suas obrigações constitucionais de fazê-lo.
Suas ações e retórica têm tido um impacto dramático em várias frentes, resultando na maior taxa de desmatamento anual da floresta amazônica nos últimos 15 anos, segundo dados do próprio governo. A destruição ambiental é acompanhada por um aumento de 138% nos casos de invasão de terras indígenas e o maior número de conflitos por terras desde 1985, segundo as organizações Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Além de descolada da realidade, a declaração de Biden é terrivelmente insensível. No domingo passado, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Philips desapareceram quando investigavam invasões na Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas. Os esforços de busca do governo brasileiro têm sido decepcionantes. Lideranças indígenas locais temem que os dois tenham sido vítimas do crime organizado, ressaltando o crescente poder de facções na região, e o retrocesso na fiscalização ambiental sob a administração Bolsonaro.
De forma vergonhosa, Biden desperdiçou a chance de usar seu encontro com Bolsonaro para apoiar os corajosos defensores da Amazônia. Estes defensores estão colocando suas vidas em risco para proteger a maior floresta tropical do mundo que é também um importante escudo contra a mudança climática. Biden deveria corrigir este erro e insistir para que Bolsonaro reverta suas políticas nocivas e coloque o Brasil de volta no caminho do combate ao desmatamento e da proteção dos defensores da floresta contra a violência.