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Polícia civil do Rio de Janeiro derruba memorial sobre violência policial

A Procuradoria Geral de Justiça falha no controle externo da polícia

Pelo menos oito viaturas da polícia do Rio de Janeiro transportando homens armados com fuzis, alguns com o uniforme camuflado da CORE –a unidade tática da polícia civil–, entraram na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, no dia 11 de maio. Eles pararam e, diante de moradores chocados, usaram um pé de cabra para remover as placas de metal do pequeno memorial erguido em uma calçada sobre uma ponte.

Memorial do Jacarezinho antes de ser derrubado pela polícia civil no dia 11 de maio de 2022. As placas pequenas contêm os nomes e datas de nascimento e morte dos 27 moradores e do policial mortos durante a operação no dia 6 de maio de 2021 na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, Brasil. Foto do arquivo pessoal de um morador do Jacarezinho.

Gravados nas placas estavam os nomes de 28 pessoas mortas durante a operação policial no Jacarezinho de 6 de maio de 2021, incluindo um policial. A polícia civil então amarrou a estrutura a um veículo blindado e a derrubou. Policiais civis destruíram os pedaços da estrutura com marretas.

“Era como se estivessem matando nossos filhos novamente”, me disse Sandra Gomes, que estava lá. Seu filho Matheus Gomes, 21, foi morto durante a operação.

A polícia civil alegou que o memorial fazia “apologia ao tráfico de drogas, uma vez  que os 27 homenageados tinham envolvimento comprovado com atividades criminosas”, em referência aos moradores mortos.

Após a operação de 2021, a mais letal da história do Rio, a mesma polícia tinha dito que duas vítimas, incluindo um rapaz de 16 anos, não tinham ficha policial e, embora tenha afirmado que as outras 25 tinham registro de passagem pela polícia, não disse se alguma foi de fato condenada por algum crime.

No dia da operação, a polícia levou pelo menos 25 vítimas ao hospital, alegando que estavam vivas, mas todas chegaram mortas. Testemunhos e outras evidências sugerem fortemente que esta foi uma armação para destruir evidências da cena do crime.

Insuficientes oitivas com testemunhas e outras falhas prejudicaram as investigações. O corpo de Matheus Gomes foi fotografado reclinado em uma cadeira de plástico sobre uma poça de sangue, mas nem a polícia nem o Ministério Público resguardaram a cadeira para fazer uma perícia, de acordo com o que me relatou a Defensoria Pública.

O Ministério Público do Rio já encerrou os inquéritos sobre 24 mortes, incluindo a de Matheus, por suposta falta de provas de ilegalidades. Apresentou denúncia de homicídio e fraude processual contra policiais em relação a três mortes, e contra supostos traficantes de drogas pela morte do policial.

A Procuradoria-Geral de Justiça do Rio, cujo mandato inclui garantir que a polícia cumpra a lei, não investigou adequadamente o comando da polícia civil por sua responsabilidade na operação.

Com um controle externo tão falho, não é de se admirar que a polícia civil do Rio se sinta empoderada para tentar destruir até mesmo a memória de suas ações brutais.

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