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Familiares enterram Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, que foi morta durante uma operação policial na comunidade da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, Brasil, 25 de maio de 2022. © 2022 AP Photo/Silvia Izquierdo

Em 26 de maio, a polícia disse que 23 pessoas foram mortas durante a operação, e não 26, conforme reportado inicialmente. A polícia informou que as três vítimas adicionais tinham sido mortas em um bairro diferente e em circunstâncias não relacionadas à operação policial. O texto abaixo foi atualizado.

Na manhã de 24 de maio de 2022 uma operação conjunta da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal na Vila Cruzeiro, uma comunidade do Rio de Janeiro, forçou os moradores a se esconderem de rajadas de tiros. Escolas, postos de saúde e o comércio não abriram naquela manhã, e pessoas não puderam ir ao trabalho. As vítimas foram chegando a um hospital próximo nas 12 horas seguintes. No final da carnificina, pelo menos 23 pessoas tinham morrido e cinco, incluindo um policial, estavam feridas

Foi a segunda operação policial mais letal da história do Rio, atrás apenas da operação que, em maio de 2021, deixou 28 pessoas mortas no Jacarezinho, outra favela a cerca de oito quilômetros de distância. 

Em ambos os casos, a polícia disse que abriu fogo após ser alvo de disparos. As investigações sobre as mortes no Jacarezinho careceram de perícias básicas e houve insuficientes oitivas com testemunhas. O Ministério Público encerrou a grande maioria dos casos sem apresentar denúncias. 

O presidente Jair Bolsonaro, que apresentou projetos de lei visando dificultar ainda mais a responsabilização de policiais por abusos, parabenizou os “guerreiros” que conduziram a operação na Vila Cruzeiro e “neutralizaram” o que chamou de “marginais”. Sua mensagem à polícia foi clara: pode continuar matando impunemente. 

A polícia afirmou que 15 vítimas eram suspeitos de tráfico de drogas e que uma mulher foi morta por uma bala perdida. Eles não disseram nada sobre as outras sete pessoas que morreram. 

Em junho de 2020, o Supremo Tribunal Federal proibiu a polícia de realizar operações em favelas do Rio, exceto em casos “absolutamente excepcionais”. Como resultado, a letalidade policial caiu 72% de junho a setembro de 2020. 

A polícia justificou a operação na Vila Cruzeiro dizendo que os criminosos estariam migrando para o Rio em razão dessa decisão judicial. Na realidade, a polícia intensificou o número de operações já em outubro de 2020, desrespeitando a decisão. 

Enquanto isso, a Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro extinguiu a unidade do Ministério Público especializada em investigar violência policial e não está garantindo investigações adequadas sobre mortes causadas por policiais. Essa instituição precisa começar a fazer um melhor trabalho. 

Em março, conforme ordenado pelo Supremo Tribunal Federal, o Rio adotou um plano para reduzir a letalidade policial—a qual têm um impacto desproporcional sobre a população negra. Mas o plano carece de objetivos concretos e orçamento definido, e não foi discutido com a sociedade civil. A operação na Vila Cruzeiro destaca a necessidade de uma reforma ampla para garantir uma a polícia com maior eficácia e transparência, e que respeite a lei. 

Caso contrário, muitas famílias provavelmente ainda vão se encontrar do lado de fora do Instituto Médico Legal (IML) do Rio para chorar por seus entes queridos após as operações policiais. 

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