Em 26 de maio, a polícia disse que 23 pessoas foram mortas durante a operação, e não 26, conforme reportado inicialmente. A polícia informou que as três vítimas adicionais tinham sido mortas em um bairro diferente e em circunstâncias não relacionadas à operação policial. O texto abaixo foi atualizado.
Na manhã de 24 de maio de 2022 uma operação conjunta da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal na Vila Cruzeiro, uma comunidade do Rio de Janeiro, forçou os moradores a se esconderem de rajadas de tiros. Escolas, postos de saúde e o comércio não abriram naquela manhã, e pessoas não puderam ir ao trabalho. As vítimas foram chegando a um hospital próximo nas 12 horas seguintes. No final da carnificina, pelo menos 23 pessoas tinham morrido e cinco, incluindo um policial, estavam feridas.
Foi a segunda operação policial mais letal da história do Rio, atrás apenas da operação que, em maio de 2021, deixou 28 pessoas mortas no Jacarezinho, outra favela a cerca de oito quilômetros de distância.
Em ambos os casos, a polícia disse que abriu fogo após ser alvo de disparos. As investigações sobre as mortes no Jacarezinho careceram de perícias básicas e houve insuficientes oitivas com testemunhas. O Ministério Público encerrou a grande maioria dos casos sem apresentar denúncias.
O presidente Jair Bolsonaro, que apresentou projetos de lei visando dificultar ainda mais a responsabilização de policiais por abusos, parabenizou os “guerreiros” que conduziram a operação na Vila Cruzeiro e “neutralizaram” o que chamou de “marginais”. Sua mensagem à polícia foi clara: pode continuar matando impunemente.
A polícia afirmou que 15 vítimas eram suspeitos de tráfico de drogas e que uma mulher foi morta por uma bala perdida. Eles não disseram nada sobre as outras sete pessoas que morreram.
Em junho de 2020, o Supremo Tribunal Federal proibiu a polícia de realizar operações em favelas do Rio, exceto em casos “absolutamente excepcionais”. Como resultado, a letalidade policial caiu 72% de junho a setembro de 2020.
A polícia justificou a operação na Vila Cruzeiro dizendo que os criminosos estariam migrando para o Rio em razão dessa decisão judicial. Na realidade, a polícia intensificou o número de operações já em outubro de 2020, desrespeitando a decisão.
Enquanto isso, a Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro extinguiu a unidade do Ministério Público especializada em investigar violência policial e não está garantindo investigações adequadas sobre mortes causadas por policiais. Essa instituição precisa começar a fazer um melhor trabalho.
Em março, conforme ordenado pelo Supremo Tribunal Federal, o Rio adotou um plano para reduzir a letalidade policial—a qual têm um impacto desproporcional sobre a população negra. Mas o plano carece de objetivos concretos e orçamento definido, e não foi discutido com a sociedade civil. A operação na Vila Cruzeiro destaca a necessidade de uma reforma ampla para garantir uma a polícia com maior eficácia e transparência, e que respeite a lei.
Caso contrário, muitas famílias provavelmente ainda vão se encontrar do lado de fora do Instituto Médico Legal (IML) do Rio para chorar por seus entes queridos após as operações policiais.