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Marielle Franco no Rio de Janeiro. © Mídia Ninja

A notícia do brutal assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes na noite de 14 de março no centro do Rio de Janeiro, foi como um chute no estômago. Marielle ajudou a Human Rights Watch a documentar abusos policiais antes do meu ingresso na organização. Depois, nos cruzamos em eventos. Mas sabia sobre seu incansável trabalho em defesa dos mais vulneráveis.

O sentimento de impotência ao apagar as luzes naquela noite não me deixou dormir. O voo curto de São Paulo até o Rio costuma ser divertido, pois sempre possibilita o reencontro com grandes amigos na “cidade maravilhosa”. Mas, na manhã seguinte aos assassinatos, meu sentimento ao embarcar era de grande pavor.

Entre o aeroporto e o centro do Rio, recebia insistentes ligações para repercutir a notícia. Somente quando cheguei no meio da multidão é que consegui levantar a cabeça e sentir algo além do terror. Milhares de pessoas tinham saído às ruas para protestar contra os assassinatos, entre elas, muitos que tiveram o privilégio de conhecer melhor Marielle e a descreviam como persistente, pé-no-chão e de uma alegria transbordante.

E olha que “alegria” nem sempre é um sentimento associado a defensores dos direitos humanos, que todos os dias têm que encarar as piores coisas que humanos podem fazer uns aos outros.

Marielle carregava o espírito jovem e assertivo das comunidades que ela representava. Em um país onde a desigualdade e a violência endêmicas vitimam cotidianamente tantos pobres, negros e mulheres, não há como subestimar a importância da sua representatividade calma, mas obstinada. Marielle denunciava violações contra membros das comunidades e defendia o direito fundamental de todo cidadão viver em segurança, independentemente de sua origem ou status social. Apesar disso, ela e Anderson foram as vítimas mais recentes de uma política de segurança completamente falida.

Como resposta a sua luta, Marielle tem sido vítima de diversas acusações. Mesmo na sombra do crime que a silenciou para sempre, críticos continuam a falar de forma suspeita sobre seu trabalho pela ordem pública e por um sistema de justiça efetivo.

A atual abordagem militar para combater o crime em comunidades pobres e o desrespeito aos direitos fundamentais alimentam um ciclo de violência e corrupção sem fim. Todos perdem com essa abordagem fracassada. Não somente os moradores dessas comunidades e defensores dos direitos humanos. Perdem também os próprios policiais e a sociedade como um todo, algo que Marielle tinha plena convicção.

Enquanto, na ponta dos pés, em um canto da Assembleia Legislativa do Rio, eu assistia a multidão crescer e demandar uma investigação independente e eficiente dos assassinatos de Marielle e Anderson, a esperança mais uma vez brotava em meio ao terreno sombrio e solitário da impotência.

Ainda teremos clareza sobre esse grave crime, seus autores serão responsabilizados, e justiça será feita para os familiares, e para toda a sociedade. Essa é a esperança que vi emergir das calçadas lotadas do centro do Rio. Continuaremos lutando pelos direitos humanos e contra a impunidade, única forma de acabar com a insegurança crônica que aflige a todos nós.

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