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Brasil: Abusos Policiais Alimentam Ciclo de Violência

Execuções extrajudiciais prejudicam a segurança pública e colocam policiais em risco

(Rio de Janeiro) – Execuções extrajudiciais e tortura cometidos por policiais contribuem para um ciclo de violência no Brasil, prejudicando a segurança pública e colocando em risco as vidas de policiais, disse hoje a Human Rights Watch em seu Relatório Mundial 2017.

Execuções tornam menos provável que membros de facções criminosas se entreguem pacificamente quando abordados pela polícia, motivando-os a matarem policiais sempre que tiverem oportunidade, disse a Human Rights Watch. As execuções também diminuem a probabilidade de residentes das comunidades denunciarem atividades criminosas ou cooperarem com as investigações como testemunhas.

Um veículo blindado da polícia militar passa ao lado de uma pessoa morta pela polícia, em 7 de abril de 2016, na favela do Jacarezinho. A polícia militar matou outras duas pessoas nessa mesma operação.  © 2016 Carlos Cout

“A cooperação da comunidade com a polícia é essencial para a redução das altas taxas de criminalidade no Brasil”, disse Maria Laura Canineu, diretora do escritório Brasil da Human Rights Watch. “Fechar os olhos para a violência policial significa não apenas negar justiça às famílias das vítimas, como também afastar comunidades e colocar policiais que nela atuam em risco”.

Nas 687 páginas da 27ª edição do Relatório Mundial, a Human Rights Watch analisa práticas de direitos humanos em mais de 90 países. No capítulo introdutório, o Diretor Executivo, Kenneth Roth, observa que uma nova geração de populistas autoritários busca derrubar o conceito de proteção aos direitos humanos, tratando o respeito aos direitos como um impedimento à realização da vontade da maioria da população. A sociedade civil, a imprensa e o público em geral têm papéis importantes na reafirmação dos valores sobre os quais as democracias que respeitam direitos se baseiam, sobretudo para aqueles que se sentem abandonados pela economia global e que sofrem com o crescente temor a crimes violentos.

De acordo com os últimos dados disponíveis, policiais mataram ao menos 3.345 pessoas em 2015 no Brasil. Embora algumas mortes sejam o resultado de uso legítimo da força, outras resultaram de execuções extrajudiciais, como documentado pela Human Rights Watch e por outros grupos.

Mulheres e adolescentes brasileiras enfrentam novos desafios de saúde devido à disseminação do vírus do Zika. Autoridades brasileiras devem fortalecer os programas de prevenção e informação, além de oferecer maior apoio às famílias com crianças diagnosticadas com síndrome de Zika, disse a Human Rights Watch.

As condições desumanas nas prisões e cadeias brasileiras são um problema urgente. De acordo com os últimos dados oficiais, mais de 622.000 adultos estão atrás das grades, 67 por cento a mais do que as prisões comportam. Superlotação e falta de agentes penitenciários e técnicos tornam impossível às autoridades prisionais manter o controle nos estabelecimentos prisionais, deixando detentos vulneráveis à violência e às atividades de facções criminosas.

Noventa e nove presos foram mortos em prisões nos estados do Amazonas, Roraima e Paraíba nos primeiros oito dias de janeiro de 2017, e outros 22 foram mortos em prisões de Roraima, Rondônia e Acre em outubro de 2016. Onze adolescentes foram mortos em dois estabelecimentos do sistema socioeducativo no estado de Pernambuco em outubro de 2016.

Mais de 24.000 crianças e adolescentes estão em estabelecimentos do sistema socioeducativo, quase 24 por cento a mais do que a capacidade máxima das instalações. Um projeto de lei em discussão deterioraria ainda mais a situação da superlotação ao aumentar o tempo máximo da internação.

Tortura e maus-tratos a presos, incluindo a crianças e adolescentes no sistema socioeducativo, são um problema grave, como documentado pela Human Rights Watch e por outras organizações. O Mecanismo Nacional de Combate e Prevenção à Tortura identificou casos de tortura e tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes em “quase todas, se não todas” as 17 cadeias e prisões que visitou entre abril de 2015 e março de 2016.

Um avanço em 2016 foi a expansão das “audiências de custódia” para todas as capitais de estado e para algumas outras jurisdições. Essas “audiências de custódia” – realizadas imediatamente após a prisão em flagrante – ajudam os juízes a decidirem quem deve ficar preso preventivamente e quem deve aguardar o julgamento em liberdade. O Congresso brasileiro deve aprovar um projeto de lei para tornar essas audiências obrigatórias por todo o país.

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