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Já tive minha “vagina” agarrada por um homem.

Eu tinha 21 anos e caminhava à noite em uma calçada em Granada, na Espanha, onde eu fazia meu intercâmbio estudantil. Se você precisa saber, eu estava vestindo calça jeans e um suéter, e não estava bêbada. Um homem que parecia ter uns 30 anos veio em minha direção, me olhou nos olhos e disse: "guarra" – algo como “puta suja". Enquanto passava por mim, ele agarrou minha virilha e seguiu caminhando. Eu fiquei ali paralisada por um momento, chocada, sentindo meu coração bater, tremendo.

Em seguida, continuei meu caminho para casa. E como tantas mulheres que passam por esse tipo de situação – ou coisa muito, muito pior –, eu senti que era inútil registrar a ocorrência com a polícia.

Mulheres participam de um protesto contra o então candidato presidencial republicano Donald Trump em frente ao Trump International Hotel and Tower, em Chicago, Illinois, EUA. 18 de outubro de 2016 © 2016 Reuters

Quase 30 anos depois, eu ainda me lembro daquele episódio. Desde que o vídeo de 2005 de Donald Trump ostentando agarrar mulheres pela "vagina" veio a público, eu tenho me perguntado como é que essa ostentação afetaria as mulheres nos Estados Unidos.

Com a nomeação do senador do Alabama, Jeff Sessions, para Procurador Geral dos EUA, eu temo ter encontrado uma resposta.

Quando em uma entrevista perguntaram a Sessions se o comportamento descrito por Trump no vídeo poderia ser caracterizado como assédio sexual, ele respondeu: "Eu não qualificaria aquilo como assédio sexual. Seria um exagero”. Mas não é. O Departamento de Justiça, o qual Sessions está agora indicado para liderar, define assédio sexual como "qualquer tipo de contato ou comportamento sexual que ocorra sem o consentimento explícito da outra parte."

Segundo estimativas do CDC (em inglês, Centers for Disease Control and Prevention) de 2014, 19% das mulheres nos EUA foram estupradas, e 44% das mulheres sofreram algum tipo violência sexual que não o estupro durante suas vidas. De acordo com uma análise do US Bureau of Justice Statistics (órgão de estatísticas da Justiça nos EUA) sobre dados da Pesquisa Nacional de Vítimas de Crimes, em 2014, apenas 34% dos estupros ou assédios sexuais foram reportados à polícia. Nessa pesquisa, os motivos apresentados pelas mulheres para não registrarem as ocorrências incluíam medo de retaliação, crença de que a polícia não ajudaria, e crença de se tratava de uma questão "pessoal". Com Trump minimizando a credibilidade e aparência daquelas que o acusam e ameaçando processá-las, tem-se ideia das barreiras para o registro das ocorrências.

Ainda que estimar os números de ocorrência de assédio sexual seja um desafio, a pesquisa de 2014 do CDC constatou que uma em cada cinco mulheres nos EUA foi vítima de estupro. Com tantas mulheres sendo expostas a alguma forma de assédio sexual, Sessions deveria aprender sobre esse crime e estar de prontidão para fazer cumprir as leis contra essa conduta.

Agarrar a “vagina” de alguém não é normal. É violento, degradante e ilegal. Eu sou uma das muitas, muitas mulheres que podem dizer, por experiência própria, que isso é errado.

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