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Nicarágua: Um merecido prêmio pela valentia

A liberdade de imprensa continua sob ataque em meio à repressão no país

Publicado em: Infobae

Os jornalistas Lucía Pineda e Miguel Mora comemoram sua libertação, em Manágua, em 11 de junho de 2019, depois de passar quase seis meses na prisão.   © 2019 MAYNOR VALENZUELA/AFP via Getty Images
"Não tínhamos tempo pra ter medo; precisávamos informar", disse Lucía Pineda, referindo-se aos seis meses que passou na prisão na Nicarágua e à sua vida atual, como jornalista exilada. Em 21 de novembro, ela e seu colega de trabalho Miguel Mora se tornaram os primeiros jornalistas nicaragüenses a ganhar o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê para a Proteção do Jornalismo (CPJ), um merecido reconhecimento de sua enorme valentia.

Em 21 de dezembro de 2018, em um dos ataques mais brutais do governo de Daniel Ortega à liberdade de expressão, agentes da Polícia Nacional invadiram os escritórios do 100% Noticias, o único canal de notícias independente da Nicarágua, cobrindo 24 horas por dias a repressão no país. Confiscaram o equipamento do canal e prenderam Pineda, diretora de notícias da emissora, Mora, o proprietário e fundador do canal, e sua esposa, a jornalista Verónica Chávez. Momentos antes do ataque, as autoridades cortaram a transmissão do canal. Chávez foi libertada no dia seguinte, mas Pineda e Mora foram acusados de "provocação, proposição e conspiração para cometer atos terroristas" e de "provocação, apologia e indução a crimes de ódio". Eles passaram seis meses na prisão, onde foram submetidos a períodos de confinamento em solitária, condições desumanas e outros maus-tratos até sua libertação em 11 de junho, sob a lei de anistia da Nicarágua. Mora também foi espancado na prisão.

Quase um ano após da prisão, a liberdade de imprensa continua sob ataques na Nicarágua. O regime de Ortega se apropriou de todo o equipamento da 100% Noticias e manteve o canal fora do ar. Os jornalistas continuam enfrentando assédio e ameaças de morte por parte de grupos pró-governo. Alguns sofreram ataques físicos e agressões.

Dois dias depois de sua libertação, Pineda foi para a Costa Rica, juntando-se a mais de 90 jornalistas – e mais de 88.000 nicaraguenses – que fugiram do país desde o início da repressão, em abril de 2018.

De sua casa em San José, Pineda continua dirigindo o 100% Noticias como uma plataforma digital. Ela colabora por WhatsApp com outros jornalistas nicaraguenses, incluindo Mora, que permaneceu na Nicarágua. Esse trabalho conjunto ajuda a dar visibilidade às contínuas investidas do governo à liberdade de expressão.

Pineda sente muita falta de seu país e sonha com o dia em que o Estado de Direito será restaurado na Nicarágua. Enquanto isso, continua fazendo jornalismo, já que, como ela me disse, "o povo da Nicarágua merece ser informado". Uma parte fundamental de qualquer democracia é contar com um jornalismo independente e ativo, e Pineda, junto com outros jornalistas nicaraguenses, nunca deixaram de exercer esse papel fundamental, apesar da perseguição do regime. Sua força e perseverança enviam uma mensagem de esperança: que, em breve, possam voltar a fazer jornalismo em uma Nicarágua democrática.

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