Skip to main content

Enquanto chanceleres latino-americanos se reúnem no Chile para tratar da situação na Venezuela, um dos líderes mais proeminentes da oposição política venezuelana está detido numa prisão militar, em isolamento e esperando que uma juíza provisória decida se será submetido a julgamento, sem que até agora se haja exibido prova válida alguma contra ele.

A violência desatada no rastro das manifestações de estudantes e opositores que começaram a 12 de fevereiro na Venezuela deixaram mais de 20 mortos, dezenas de feridos, centenas de detidos e sérias denúncias de brutalidade, torturas e abusos cometidos pelas forças de segurança. O Estado, além disso, tolerou e colaborou com grupos armados civis que apoiam o governo. A Procuradoria, a contragosto — e graças a vídeos e à pressão da opinião pública — deu alguns passos para investigar as verdadeiras responsabilidades nesses fatos. Contudo, segue avançando com uma velocidade notável para atribuir a responsabilidade penal pela violência à oposição política.

Altas autoridades do governo venezuelano sustentaram que Leopoldo López, dirigente do partido Vontade Popular, era o “autor intelectual” da violência e a Procuradoria pediu sua detenção, acusando-o de tudo: violência, distúrbios, mortes e lesões. Logo acusou também Carlos Vecchio, que secunda López na direção do partido, e a outros dois membros da oposição por fatos similares, invocando teorias conspiratórias em vez de apresentar provas.

Para o governo venezuelano, é relativamente fácil usar o sistema judicial como instrumento político desde que, em 2004, o chavismo depurou o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e nomeou juízes afins. Desde então, o Judiciário deixou de atuar efetivamente como um poder independente. Através da Comissão Judicial do TSJ, que tem a faculdade de nomear e remover juízes provisórios e temporários — que hoje são a maioria no país — esta politização da Justiça se propagou ao resto do Poder Judiciário. Em 18 de fevereiro, López se entregou às autoridades e desde então está preso em Ramo Verde, prisão militar na qual só tem contato com seus parentes mais próximos e seus advogados, e somente deixa a cela quando não há possibilidade de contato com outros presos.

Ante contundente evidência tornada pública pelo jornal venezuelano “Últimas Noticias”, sugerindo que homens uniformizados e civis armados eram os autores de uma das mortes ocorridas no dia 12 de fevereiro, a Promotoria teve de recuar das acusações de homicídio imputadas inicialmente a López. Contudo, ele continua sujeito a investigações por vários delitos, incluindo associação para delinquir, punida com pena de até dez anos. É muito improvável que López seja libertado em breve. Legalmente, poderia permanecer detido preventivamente por até 45 dias, quando a Promotoria deveria acusá-lo ou arquivar o caso e liberá-lo, mas na prática esses prazos não são respeitados na Venezuela. Num estado de direito, a liberdade de López estaria garantida se as autoridades não apresentassem provas concretas de que ele era responsável por um delito. Contudo, na Venezuela é muito difícil para um juiz adotar uma decisão conforme a lei se ela for contrária aos interesses do governo.

A reunião da OEA, na semana passada, terminou com uma declaração que parece descrever a situação na Venezuela como se fosse uma catástrofe natural, em vez de responsabilizar o governo por violações de direitos humanos, como a censura e a brutalidade das forças de segurança. Haverá alguma possibilidade de a reunião de Santiago, da Unasul, levar a um resultado diferente, exigindo que a Venezuela assuma suas obrigações jurídicas internacionais de respeitar os direitos humanos? Especificamente, exigir-se-á desta vez que cessem os abusos contra manifestantes e a liberação e o respeito à garantia do devido processo aos que foram presos arbitrariamente, como Leopoldo López?

GIVING TUESDAY MATCH EXTENDED:

Did you miss Giving Tuesday? Our special 3X match has been EXTENDED through Friday at midnight. Your gift will now go three times further to help HRW investigate violations, expose what's happening on the ground and push for change.
Região/País

Mais vistos