A polícia militar tem uma nobre e essencial responsabilidade : proteger a população do crime. Todos os brasileiros têm igual direito a essa proteção, não importando gênero, raça ou posições políticas.
No entanto, o principal palestrante escolhido para falar perante a Escola Superior de Polícia Militar no Rio de Janeiro, no dia 10 de abril, foi alguém que tem relativizado a violência e a discriminação contra vários grupos no Brasil.
O deputado federal e pré-candidato à presidência, Jair Bolsonaro, ministrou a aula inaugural do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, que durante oito meses prepara os capitães para a promoção a major.
Recentemente Bolsonaro se referiu aos afro-brasileiros como gado, demonstrou uma atitude desdenhosa em relação à violência sexual contra as mulheres, e homenageou um coronel do exército que comandou um centro de tortura durante a ditadura.
A palestra de Bolsonaro - sobre contexto político nacional e internacional - ocorreu uma semana depois da polêmica causada por seus últimos comentários ofensivos. Durante um discurso no dia 3 de abril, Bolsonaro disse que a pessoa mais leve em um quilombo que visitou pesava sete arrobas (uma medida de peso usada para gado equivalente a 15 quilos). "Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais", acrescentou.
Durante uma sessão na Câmara dos Deputados, em 2014, Bolsonaro disse que a deputada Maria do Rosário "não merecia ser estuprada". No dia seguinte, acrescentou em entrevista ao jornal: "É muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria".
E Bolsonaro defende como "herói brasileiro" o falecido coronel Carlos Brilhante Ustra, que de 1970 a 1974 comandou o DOI-CODI/II Exército de São Paulo, onde milhares de presos foram brutalmente interrogados durante a ditadura, segundo a Comissão da Verdade. Vários sobreviventes identificaram Ustra pessoalmente como seu torturador. Em seu site, Bolsonaro disse que essas acusações foram feitas por pessoas que querem receber indenizações do governo “por razões políticas".
Como qualquer outro indivíduo, Bolsonaro deve ter o direito de expressar suas opiniões pessoais, por mais ofensivas que sejam, desde que não incitem condutas ilegais. Mas é profundamente perturbador que a polícia militar do Rio de Janeiro lhe dê um espaço central em um curso de treinamento para seus futuros líderes, uma vez que o deputado é conhecido por endossar pontos de vista que são opostos aos valores que a polícia deve representar.