A rápida propagação do vírus Zika trouxe preocupação às autoridades de saúde pública nas Américas. A Organização Mundial da Saúde advertiu, no último domingo, que o vírus pode se espalhar ainda mais por toda a região.
À primeira vista, o vírus não é tão diferente de doenças como a febre amarela, chikungunya, ou dengue – todas elas transmitidas pelo mosquito Aedes. Em uma de cada cinco pessoas afetadas, o vírus provoca uma leve febre, dores de cabeça e calafrios. O vírus pode também estar ligado a uma paralisia relacionada com a síndrome de Guillain-Barré. No entanto, médicos brasileiros têm diagnosticado mais e mais casos de uma malformação congênita, chamada microcefalia, na qual o cérebro e a cabeça são subdesenvolvidos. O vírus Zika está possivelmente ligado ao nascimento de milhares de bebês com esta condição no Brasil.
Países como Colômbia, Equador e Jamaica têm recomendado que as mulheres adiem a gravidez. El Salvador pediu que mulheres o façam até 2018.
Alertar as mulheres para que adiem a gravidez pode ser prudente. Mas muitas mulheres e meninas não têm controle sobre quando vão engravidar. Vejamos o caso de El Salvador - um país com leis altamente restritivas sobre os direitos reprodutivos das mulheres – e com altos índices de violência sexual. Das mulheres que são casadas, ou em união, e em idade fértil, 72 por cento utilizam, atualmente, algum tipo de método contraceptivo, e 11 por cento relatam uma necessidade não atendida quanto a métodos contraceptivos. E isso não reflete uma provável necessidade não atendida muito maior entre outras mulheres e meninas. As taxas de uso de métodos contraceptivos teriam que aumentar de forma dramática para que a recomendação do governo se torne uma realidade. Mas, para muitas mulheres e meninas, atrasar a gravidez por dois anos é algo simplesmente impossível no contexto atual.
Controlar a disseminação do Zika é uma prioridade urgente para os países da região e vai exigir uma série de medidas, incluindo medidas rápidas para controlar a propagação do mosquito transmissor da doença. Mas esta crise é também um lembrete de que os problemas de saúde pública muitas vezes não podem ser combatidos de forma eficaz em um ambiente em que as mulheres não têm o poder de tomar conta de suas próprias necessidades de saúde e não têm acesso aos serviços que necessitam. Pedir às mulheres que não engravidem pode ser um alerta importante, mas até que mulheres e meninas possam realizar seu direito de obter cuidados de saúde reprodutiva abrangentes de forma segura e legal para decidirem quando elas se tornam – e permanecem – grávidas, não é uma solução muito prática.