Os apelos para dar prioridade à responsabilização no Conselho de Direitos Humanos da ONU, após a retomada da violência no Sudão, encontraram forte resistência por parte dos Estados árabes, e foram amplamente rejeitados pelos governos africanos. Os governos ocidentais mostraram-se inicialmente relutantes em pressionar por um mecanismo de responsabilização no Sudão, não dispostos a comprometer os recursos ou esforços que tinham dedicado a um órgão semelhante para a Ucrânia, imediatamente após a invasão em grande escala pela Rússia em 2022.
Um grupo de países acabou por reunir votos suficientes para criar um mecanismo que pudesse coletar e preservar evidências de crimes, mas nenhum governo africano votou a favor, embora alguns tenham abstido. O governo sudanês deixou claro que não cooperará com o mecanismo, que funcionará fora do país.
Mas, ainda assim, governos africanos tomam medidas positivas em matéria de direitos humanos em algumas questões. Eles tendem a apoiar majoritariamente resoluções do Conselho de Direitos Humanos que abordam a situação dos direitos humanos na Palestina, enquanto os países ocidentais a elas se opõem. E em dezembro, o governo sul-africano pediu ao Tribunal Internacional de Justiça que determinasse se Israel violou as suas obrigações à Convenção do Genocídio de 1948 nas suas operações militares em Gaza. Também pediu ao tribunal que impusesse medidas provisórias ordenando a Israel que cessasse os atos que pudessem violar a Convenção do Genocídio enquanto o tribunal decidia sobre o mérito do caso.
Todos os governos podem demonstrar liderança em matéria de direitos humanos para proteger civis. O desafio – e a urgência – é fazê-lo de forma consistente, de maneira baseada em princípios, independentemente do perpetrador ou da vítima.
A miopia da diplomacia transacional
Os governos deveriam colocar o respeito pelos direitos humanos e pelo estado de direito no centro de suas políticas internas e nas decisões de política externa. Infelizmente, até mesmo governos que normalmente respeitam os direitos humanos, por vezes, tratam estes princípios fundamentais como opcionais, procurando “soluções” de curto prazo e politicamente convenientes, em detrimento da construção de instituições que seriam benéficas para a segurança, o comércio, a energia e a migração a longo prazo. Escolher a diplomacia transacional acarreta um custo humano que é pago não só dentro, mas cada vez mais além das fronteiras.
Exemplos de diplomacia transacional são abundantes.
O presidente dos EUA, Joe Biden, mostrou pouca disposição em promover a responsabilização de violadores de direitos humanos que são fundamentais para sua agenda doméstica ou que são vistos como baluartes da China. Aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, a Índia e o Egito, violam os direitos dos seus povos em grande escala, ainda assim, não enfrentaram qualquer obstáculo para aprofundar seus laços com os EUA. O Vietnã, as Filipinas, a Índia e outras nações que os EUA querem como contrapontos à China foram recebidos na Casa Branca sem que tenham sido levados em conta os abusos de direitos humanos em seus países.
Da mesma forma, no que diz respeito à migração, Washington tem sido relutante em criticar o México, em quem se apoia para impedir a entrada de migrantes e solicitantes de refúgio nos EUA. A administração Biden e a do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, trabalharam em conjunto para expulsar ou deportar dezenas de milhares de migrantes dos EUA para o México e impedir que outros milhares cheguem aos EUA em busca de segurança, mesmo sabendo que são alvo de sequestro, extorsão, agressão e outros abusos no México. Biden tem, em grande parte, permanecido em silêncio, enquanto López Obrador tem tentado enfraquecer a independência do poder judiciário mexicano e de outros órgãos constitucionais, demonizado jornalistas e ativistas de direitos humanos e permitido que os militares coloquem obstáculo a sua responsabilização por terríveis abusos.