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China

Events of 2020

Pro-democracy lawmaker Andrew Wan is arrested by riot police during a protest in Hong Kong, China, July 1, 2020. Wan was one of the first people arrested under Hong Kong's new National Security Law. 

 

© 2020 Yat Kai Yeung/NurPhoto via Getty Images

O autoritarismo do governo chinês esteve em plena evidência em 2020, enquanto lutava para controlar o surto de Covid-19, identificado inicialmente na província de Wuhan. Num primeiro momento as autoridades esconderam notícias sobre o coronavírus, mas logo adotaram medidas severas de quarentena em Wuhan e em outras regiões da China. O governo rejeitou os apelos internacionais por investigações independentes e irrestritas em relação à forma como as autoridades chinesas lidaram com a pandemia, e monitorou e assediou as famílias das pessoas que morreram em decorrência do coronavírus.

A repressão de Pequim – insistindo na lealdade política ao Partido Comunista Chinês – se aprofundou em todo o país. Em Hong Kong, após seis meses de grandes protestos em 2019, o governo chinês impôs uma draconiana "Lei de Segurança Nacional" em 30 de junho – seu ataque mais agressivo às liberdades do povo de Hong Kong desde a transferência de soberania em 1997. Em Xinjiang, os muçulmanos turcomanos continuam a ser detidos arbitrariamente com base em sua identidade, enquanto outros são submetidos a trabalhos forçados, vigilância em massa e doutrinação política. Na Mongólia Interior, protestos eclodiram em setembro, quando autoridades educacionais decidiram substituir o mongol pelo mandarim em várias aulas nas escolas da região.

A repressão do governo chinês  a defensores dos direitos humanos, jornalistas e ativistas, e as restrições à internet também tornam difícil obter informações precisas sobre as políticas e ações do governo chinês.

Apesar dessas ameaças, alguns indivíduos proeminentes criticaram publicamente o presidente Xi Jinping. O empresário Ren Zhiqiang escreveu um ensaio chamando Xi Jinping de "um palhaço que deseja o poder", enquanto a ex-professora da Escola Central do Partido Comunista da China, Cai Xia, chamou o Partido Comunista Chinês de "zumbi político". Ren recebeu uma sentença de prisão extraordinariamente longa – 18 anos – em setembro; Cai fugiu para o exílio.

Governos, grupos da sociedade civil e oficiais das Nações Unidas expressaram crescente preocupação com as violações dos direitos humanos do governo chinês em 2020. Em abril, denúncias sobre africanos na China serem alvo de testes de Covid-19 geraram reclamações de governos africanos e da sociedade civil. Em julho, o governo dos EUA impôs sanções às principais autoridades chinesas responsáveis ​​pelos abusos em Xinjiang. Em junho, em uma ação sem precedentes, um grupo de 50 especialistas independentes que integram os do  Procedimentos Especiais do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, emitiram uma declaração conjunta sobre a China, pedindo "atenção renovada sobre a situação dos direitos humanos no país" como uma questão de urgência, inclusive por meio de uma sessão especial do Conselho de Direitos Humanos sobre a China e a criação de um mecanismo internacional para tratar das violações de direitos no país.

Hong Kong

Um milhão de pessoas de Hong Kong iniciaram o ano novo marchando pacificamente pela democracia, mas em janeiro de 2020 o governo chinês substituiu seu representante em Hong Kong por Luo Huining, que não tinha experiência em Hong Kong, mas era conhecido por executar as determinações do Partido Comunista.

Em abril, representantes de Pequim em Hong Kong ameaçaram os legisladores pró-democracia com "graves consequências" pelo atraso na seleção de um novo presidente para um comitê interno do semidemocrático Conselho Legislativo de Hong Kong, interferindo novamente na autonomia do território. Os representantes então "reinterpretaram" a constituição de Hong Kong, a Lei Básica, declarando que as limitações da lei não se aplicavam sobre seus poderes. Em maio, com a ajuda de dezenas de seguranças, legisladores pró-Pequim removeram pelo menos 10 legisladores pró-democracia do comitê interno do Conselho Legislativo por meio de um processo duvidoso. A líder dos legisladores pró-Pequim, Starry Lee, afirmou que ela agora era a presidente e tinha o poder de supervisionar os procedimentos. A tomada de poder de Lee deu às autoridades do continente maior controle sobre o Conselho Legislativo, que em junho aprovou um projeto de lei que criminaliza o "desrespeito" ao hino nacional chinês.

Ao longo do ano, a polícia de Hong Kong prendeu  lideranças pró-democracia por ações pacíficas. Em fevereiro, a polícia de Hong Kong prendeu o magnata da mídia pró-democracia Jimmy Lai e os ex-legisladores Lee Cheuk-yan e Yeung Sum, por sua participação nos protestos de 2019. Em abril, a polícia de Hong Kong prendeu 15 importantes líderes pró-democracia, incluindo o advogado Martin Lee, de 81 anos, por “organizar e participar de assembleias ilegais” durante os protestos de 2019.

Em 30 de junho, o governo chinês contornou o Conselho Legislativo e impôs uma nova Lei de Segurança Nacional (NSL, na sigla em inglês) em Hong Kong. A lei cria agências de segurança secretas especializadas, nega o direito a um julgamento justo, fornece novos poderes à polícia, aumenta as restrições à sociedade civil e à mídia, e enfraquece a supervisão judicial. Pouco antes da promulgação da lei, vários grupos pró-democracia, incluindo o Demosisto, se dissolveram.

O chefe de educação de Hong Kong proibiu o hino de protesto “Glória a Hong Kong” nas escolas. Bibliotecas públicas retiraram livros de figuras pró-democracia. As autoridades consideraram ilegal o slogan do protesto de 2019, "Libertar Hong Kong, a revolução dos nossos tempos".

A polícia usou o NSL para prender aqueles que gritavam ou seguravam cartazes com o slogan em protestos e contra os organizadores do movimento pró-democracia. No final de julho, quatro integrantes do grupo político Studentlocalism foram presos por violações da NSL. Em agosto, a polícia invadiu a sede do jornal pró-democracia Apple Daily, prendeu seu dono Jimmy Lai, seus dois filhos e quatro executivos por “conluio com forças estrangeiras” e conspiração para cometer fraude. Dois outros ativistas pela democracia também foram presos.

Em julho, as autoridades eleitorais de Hong Kong desqualificaram uma dúzia de indivíduos pró-democracia das eleições legislativas marcadas para setembro. Naquele mês, o governo de Hong Kong “adiou” as eleições por um ano, citando um aumento nos casos de Covid-19.

Também em julho, o conselho administrativo da Universidade de Hong Kong – dominado por membros de fora da universidade e presidido por um político pró-Pequim – demitiu o professor Benny Tai, uma figura importante do movimento pró-democracia de Hong Kong.

Após a promulgação da NSL, alguns ativistas fugiram. Um grupo de 12 manifestantes foi interceptado pelas autoridades do continente quando tentavam chegar a Taiwan por mar. No momento da redação desse relatório, eles permaneciam detidos na China sem acesso a advogados.

Nenhum policial que supostamente usou força excessiva durante os protestos de 2019 foi responsabilizado. Em alguns casos, a polícia obstruiu os esforços por responsabilização. Em março, a polícia prendeu um político pró-democracia, Cheng Lai-king, por revelar nas redes sociais a identidade do oficial que atirou e cegou um jornalista que cobria os protestos.

A liberdade de imprensa continuou a se deteriorar. Durante um protesto em maio, a polícia obrigou jornalistas a se ajoelharem e borrifou gás de pimenta neles. Em junho, a emissora pública Radio Television Hong Kong (RTHK) suspendeu seu popular programa satírico político, o Headliner, após pressão política. Em julho e agosto, o jornalista do New York Times, Chris Buckley, e o novo editor do Hong Kong Free Press, Aaron Mc Nicholas, tiveram seus vistos negados para trabalhar na cidade.

Xinjiang

Os esforços do governo chinês para apagar a identidade dos uigures e de outros muçulmanos turcomanos  na região persistiram. Em janeiro, uma investigação da CNN examinando imagens de satélite apontou que mais de 100 cemitérios tradicionais uigur foram destruídos.

Em agosto, outro estudo de imagens de satélite do Buzzfeed revelou que as autoridades de Xinjiang construíram mais de 260 estabelecimentos para detenções "massivas" desde 2017, fornecendo mais evidências que corroboram descobertas anteriores de grupos de direitos humanos e jornalistas de que as autoridades chinesas estão detendo arbitrariamente e massivamente muçulmanos turcomanos.

Embora o governo chinês pareça ter fechado alguns campos de educação política e “libertado” detidos após a indignação global, um número incontável de muçulmanos turcomanos permanecem detidos e encarcerados apenas com base em suas identidades. Um número significativo de uigures da diáspora continua sem informações sobre o paradeiro de seus familiares, mais de cinco anos após o lançamento da campanha governamental “Strike Hard”.

Alguns detidos uigures “libertados” são forçados a trabalhar em fábricas e campos dentro e fora de Xinjiang, sob o que as autoridades descrevem como esforços de “redução da pobreza”. Em fevereiro, um think tank australiano revelou uma lista de 82 marcas globais com fornecedores de fábricas chinesas que usaram trabalhadores de Xinjiang em condições que "sugerem fortemente" trabalho forçado.

Em julho, uma empresa especializada em segurança digital sediada nos EUA, a Lookout, relatou que grupos ligados ao governo chinês usam hardware para invadir telefones uigures dentro e fora da China em grande escala desde 2013.

Tibete

Autoridades em regiões tibetanas continuam a restringir severamente a liberdade religiosa, de expressão, circulação e reunião, e têm sido incapazes de endereçar n as preocupações populares sobre a mineração e a apropriação de terras por autoridades locais, que frequentemente envolvem intimidação e uso ilegal da força por órgãos de segurança.

O 13º Plano Quinquenal para o Tibete (2015-2020), que definiu metas estaduais ambiciosas para a transformação rural, inclui a realocação de centenas de milhares de pessoas. As reivindicações oficiais de “redução da pobreza” geraram temores de uma maior marginalização e expropriação da população rural do Tibete.

Em maio, entrou em vigor o regulamento para a promoção de “Áreas Modelo de Unidade de Nacionalidade”, representando um novo marco para as políticas de assimilação social coercitivas do atual governo. Essas políticas encorajam a migração econômica de outras partes da China e a eliminação gradual do ensino tibetano nas escolas primárias. A vigilância intensificada e a intimidação em bairros, locais de trabalho e residências impediram protestos públicos, uma meta enfatizada repetidamente por autoridades importantes.

No 7º Fórum sobre o Trabalho no Tibete, em agosto de 2020, o presidente Xi Jinping pediu pessoalmente o aumento da educação política nas escolas para garantir a lealdade da próxima geração, sinalizando o apoio central para essas políticas.

Em novembro de 2019, na região tibetana de Ngawa, em Sichuan, Yonten se tornou o 156º tibetano a se incendiar em protesto contra o governo chinês desde março de 2009.

Covid-19

A resposta do governo chinês ao surto de coronavírus foi inicialmente atrasada pela omissão de informações ao público, subnotificação de casos de infecção, minimização da gravidade da infecção e negação da probabilidade de transmissão entre humanos. As autoridades também detiveram pessoas por “espalhar boatos”, censuraram as discussões online sobre o surto e restringiram as reportagens da mídia.

Em áreas confinadas, principalmente em Wuhan no início de 2020 e em Xinjiang em agosto, as autoridades não conseguiram garantir o acesso adequado a cuidados médicos, alimentos e outras necessidades. Em Xinjiang, as autoridades forçaram alguns residentes a tomar a medicina tradicional chinesa, selaram as portas de seus apartamentos com barras de ferro e acorrentaram aqueles que violaram as medidas de lockdown a postes de metal.

As autoridades detiveram o advogado e jornalista Chen Qiushi, o empresário Fang Bin, o ativista Zhang Zhan e outros por suas reportagens independentes sobre o surto em Wuhan. Em abril, a polícia de Pequim deteve Chen Mei e Cai Wei por guardarem  notícias, entrevistas e contas pessoais relacionadas a pandemia e censuradas pelo governo .

Em abril, as autoridades em Guangzhou, lar da maior comunidade africana na China, realizaram testes de Covid-19 à força em africanos  e ordenaram que eles se isolassem ou fizessem quarentena em hotéis designados. Os proprietários despejaram residentes africanos, forçando muitos a dormir na rua, e hotéis, lojas e restaurantes se recusaram a atender clientes africanos.

Autoridades de todo o país impediram que familiares de pessoas que morreram por Coronavírus apresentassem denúncias de negligência contra o governo, hospitais e hotéis de quarentena.

Em todo o país, mais de 241 milhões de alunos da pré-escola ao ensino médio foram afetados pelo fechamento de escolas, de acordo com estimativas da ONU. As desigualdades pré-existentes na educação refletiram-se na falta de acesso dos alunos à Internet e a dispositivos compatíveis.

Pequim inicialmente resistiu a um pedido de investigação internacional sobre a origem do coronavírus, punindo a Austrália, que emitiu o pedido, com a suspensão de uma parcela significativa das importações de carne bovina do país. Depois de mais de 120 países apoiarem uma resolução da Organização Mundial da Saúde (OMS) apoiando uma investigação independente, Pequim permitiu que uma equipe da OMS visitasse o país, mas a visita dos especialistas em agosto não incluiu Wuhan.

Defensores dos direitos humanos

As autoridades continuaram a reprimir a comunidade – antes crescente – de defensores dos direitos humanos, e cada vez mais miram familiares de ativistas.

Em dezembro de 2019, a polícia de todo o país deteve vários participantes de uma reunião em Xiamen, na província de Fujian, na qualestavam sendo discutidos os direitos humanos e o futuro político da China. Enquanto outros foram libertados posteriormente, o advogado de direitos humanos Ding Jiaxi permaneceu detido sob a acusação de “incitar a subversão”. No mesmo mês, um tribunal de Sichuan sentenciou Wang Yi, um pastor cristão, a nove anos de prisão por "incitar a subversão".

Em fevereiro, as autoridades em Guangzhou prenderam o conhecido ativista legal Xu Zhiyong – que já havia sido preso no passado –, acusando-o de "subversão". A polícia também colocou a namorada de Xu, Li Qiaochu, sob detenção secreta por quatro meses.

Em março, as autoridades de Yunnan provocaram o desaparecimento forçado do artista e ativista Wang Zang. Três meses depois, sua esposa, Wang Liqin, também desapareceu após pedir a libertação de seu marido no Twitter, deixando seus quatro filhos pequenos sem os pais. O casal foi posteriormente acusado de "incitar a subversão".

Em abril, depois de ser preso injustamente por quatro anos e meio, o advogado de direitos humanos Wang Quanzhang, foi libertado da prisão. Apesar de ter testado negativo para Covid-19 várias vezes, as autoridades o colocaram em quarentena em sua cidade natal antes de permitir que ele voltasse a Pequim e se reunisse – sob vigilância – com sua família.

Em junho, um tribunal da província de Jiangsu sentenciou Yu Wensheng, um advogado de direitos humanos detido desde janeiro de 2018, a quatro anos de prisão após condená-lo por "incitação à subversão".

Em setembro, a polícia de Pequim prendeu a editora e produtora Geng Xiaonan e seu marido, Qin Zhen, sob suspeita de “operações comerciais ilegais”. Geng é uma apoiadora de longa data de acadêmicos e ativistas independentes, e  havia falado  publicamente por seu amigo Xu Zhangrun, um conhecido professor de direito que foi detido por seis dias em julho por publicar artigos críticos ao presidente Xi Jinping.

Liberdade de expressão

As autoridades detiveram e processaram várias pessoas por postagens online e mensagens de bate-papo privadas que criticavam o governo, acusando-as de crimes como "espalhar boatos", "provocar conflitos" e "insultar os líderes do país". O governo continuou a reprimir os usuários chineses do Twitter, que é bloqueado na China. Foi revelado em janeiro que um estudante chinês da Universidade de Minnesota foi condenado a seis meses de prisão em novembro de 2019 por tweets que criticaram o presidente Xi Jinping quando ele estudava nos Estados Unidos.

As autoridades expandiram seu regime de censura na internet para suprimir conteúdos que não estivessem de acordo com os “valores socialistas centrais”. Em março, a Administração do Ciberespaço implementou um conjunto de novos regulamentos para melhorar a “governança do ecossistema de notícias online”, incluindo a proibição de uma ampla e cada vez maior gama de conteúdos "negativos" ou ilegais. Em agosto, as autoridades fecharam o Bainu, o único site de mídia social em idioma mongol na China, depois que falantes da língua mongol publicaram queixas no site sobre uma política que substituía o mongol pelo mandarim como idioma de instrução em algumas aulas.

Em março, um tribunal em Ningbo condenou Gui Minhai, um sueco editor de livros, a 10 anos por supostamente “fornecer inteligência” a estrangeiros. Isso aconteceu cinco anos depois que Gui, que publica livros sobre as intrigas políticas da China, desapareceu à força na Tailândia em outubro de 2015.

Liberdade de religião

Os esforços do governo chinês para "sinicizar" a religião – que visa garantir que o Partido Comunista Chinês seja o árbitro da vida espiritual das pessoas – continuaram em 2020.

A legislação chinesa determina que as pessoas podem praticar apenas as 5 religiões oficialmente reconhecidas, em instalações oficialmente aprovadas e que as autoridades tenham controle sobre suas nomeações de pessoal, publicações, finanças e inscrições para seminários. O governo chinês endureceu ainda mais essas restrições em 1º de fevereiro, quando começou a implementar as novas “Medidas Administrativas para Grupos Religiosos”. As medidas declaram a supremacia do Partido Comunista Chinês nos assuntos religiosos, exigem que as organizações religiosas divulguem as políticas do Partido, colocam nas mãos dos funcionários do Partido o poder de decidir, até mesmo as decisões religiosas mais internas, e proíbem os grupos religiosos de operar sem autorização.

Em 2 de abril, Zhao Huaiguo, pastor da Igreja Bethel no condado de Cili, Hunan, foi preso por "incitação à subversão".

Os muçulmanos relataram restrições crescentes ao Islã. As autoridades apagaram a escrita árabe de mesquitas e restaurantes halal e alteraram o estilo arquitetônico das mesquitas e pontos de referência para torná-los mais “chineses” em todo o país.

Em julho, hackers originários da China foram encontrados espionando as redes de computadores do Vaticano. Em outubro, o Vaticano renovou um acordo não publicado de dois anos com o governo chinês que permite a ambas as partes participar da nomeação de bispos na China, apesar do aumento da perseguição religiosa no país.

Vigilância em massa

Para combater a Covid-19, os gigantes chineses da tecnologia desenvolveram um aplicativo conhecido como Código de Saúde. Usando algoritmos desconhecidos, o aplicativo qualifica as pessoas com três cores (verde, amarelo ou vermelho) dependendo de uma série de fatores, como, por exemplo, se a pessoa já esteve em áreas infectadas pelo coronavírus. Essa cor tem um impacto amplo na vida das pessoas, incluindo sua liberdade de circulação, já que as autoridades locais em todo o país exigem que as pessoas mostrem seu aplicativo quando se deslocam.

Em maio, o grupo de pesquisa canadense Citizen Lab descobriu que o serviço de mídia social chinês WeChat estava monitorando o conteúdo de usuários fora da China.

Aplicativos, produtos e ferramentas desenvolvidos por empresas de tecnologia chinesas aumentam a ameaça de interferência e vigilância do governo chinês, levando alguns governos estrangeiros a impor amplas restrições que levantam questões de direitos humanos. O governo indiano baniu o TikTok, o WeChat e outros aplicativos chineses em junho; o governo dos EUA lançou uma iniciativa de “Rede Limpa”, com uma formulação vaga, para reduzir significativamente o uso e a venda de produtos e serviços de tecnologia chinesa nos Estados Unidos, por exemplo, removendo os principais aplicativos chineses das lojas de aplicativos americanas.

Direitos das Mulheres e Meninas

De acordo com ativistas pelos direitos das mulheres, os casos de violência doméstica aumentaram em cidades e vilas em lockdown pelo coronavírus.

Em junho, o Congresso Nacional do Povo, o parlamento da China, apresentou um código civil que, pela primeira vez, define o assédio sexual e afirma que os perpetradores podem ser responsabilizados, embora seja vago sobre quais recursos estão disponíveis para as vítimas. A lei também torna mais difícil o divórcio, estabelecendo um “período de reflexão” obrigatório de 30 dias para casais que solicitam o divórcio por meio de um acordo. Esta disposição prejudicará desproporcionalmente as mulheres, uma vez que três quartos dos divórcios são iniciados por mulheres, inclusive potencialmente colocando em perigo as mulheres que sofrem violência doméstica.

As ativistas pelos direitos das mulheres continuaram a enfrentar o assédio das autoridades. Em março, as autoridades da Mongólia Interior forçaram Ye Haiyan – uma ativista que defende os direitos das trabalhadoras do sexo e vítimas de assédio sexual – a demolir as tendas que ela e seu parceiro construíram para alugar para viajantes, cortando sua principal fonte de renda.

Em setembro, feministas e internautas ficaram perplexos quando um polêmico processo #MeToo terminou com o principal promotor liberando Bao Yuming, um advogado e ex-executivo da empresa de tecnologia chinesa ZTE, de acusações de estupro infantil feitas por uma mulher que alegou ser sua filha adotiva.

Orientação Sexual e Identidade De Gênero

Embora a China tenha descriminalizado a homossexualidade em 1997, ela carece de leis que protejam as pessoas da discriminação com base na orientação sexual ou identidade de gênero, além de uniões entre pessoas do mesmo sexo não serem legais.

Em janeiro, um tribunal de Pequim decidiu que era ilegal uma empresa de comércio eletrônico demitir uma mulher quando ela tirou licença para uma cirurgia de transição de gênero.

Em junho, um tribunal de Zhejiang aceitou um caso movido por uma lésbica pela custódia e os direitos de visita dos filhos que ela teve com sua ex-companheira, com quem se casou nos Estados Unidos.

Em agosto, os organizadores da Parada do Orgulho LGBT de Xangai, um dos maiores festivais LGBT da China, anunciaram que cancelariam todas as atividades e eventos por tempo indeterminado, citando a necessidade de "proteger a segurança de todos os envolvidos".

Direitos das Pessoas com Deficiência

A China ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2008. No entanto, as pessoas com deficiência continuam a enfrentar discriminação em áreas como educação e emprego.

Apenas cinco alunos puderam acessar a versão em Braille do vestibular da China, um exame feito por mais de 10 milhões de alunos em julho.

As autoridades em todo o país continuaram a assediar e perseguir famílias com crianças que desenvolveram deficiências após receberem vacinas defeituosas. Em janeiro, as autoridades libertaram He Fangmei, uma ativista pela segurança das vacinas, detida em março de 2019.

Em setembro, um tribunal de Hunan julgou secretamente Cheng Yuan, Liu Dazhi e Wu Gejianxiong, membros do grupo antidiscriminação Changsha Funeng, que defende os direitos das pessoas com deficiência, sob acusações de “subversão”.

Refugiados e solicitantes de refúgio

A China continuou a deter e retornar à força centenas, talvez milhares, de refugiados norte-coreanos, violando assim suas obrigações como parte da Convenção relativa ao Estatuto dos refugiados de 1951 . O governo se recusou a considerar os norte-coreanos em fuga como refugiados, embora os retornados sejam perseguidos há muito tempo. A Human Rights Watch considera os norte-coreanos na China como refugiados “sur place”, o que significa que sua chegada à China os colocará em risco se retornarem.

Principais Atores Internacionais

Um número crescente de governos expressou preocupação pública com as violações dos direitos humanos na China em 2020, especialmente em Hong Kong e Xinjiang, embora relativamente poucos tenham tomado medidas concretas.

Os EUA impuseram algumas sanções direcionadas a autoridades, agências e empresas chinesas envolvidas em abusos nessas duas regiões, e o Congresso dos EUA aprovou várias leis relacionadas a questões de direitos humanos. O Reino Unido liderou uma declaração conjunta sobre as violações dos direitos da China no Conselho de Direitos Humanos em junho, e agiu para oferecer refúgio seguro aos habitantes de Hong Kong com laços com o Reino Unido. Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos agiram rapidamente para suspender os tratados de extradição com Hong Kong e alguns atuaram para facilitar o acesso da população de Hong Kong a esses países em resposta à Lei de Segurança Nacional.

A União Europeia continuou a condenar o histórico de deterioração dos direitos humanos da China, tanto a nível bilateral - incluindo nos níveis mais elevados - como em fóruns internacionais. No entanto, apesar da pressão contínua do Parlamento Europeu e da sociedade civil, as divisões entre os estados membros da UE impediram o bloco de adotar medidas robustas, como sanções contra as autoridades chinesas responsáveis ​​pela repressão. Poucos governos em países de maioria muçulmana expressaram preocupação com os abusos em Xinjiang.

O número de países dispostos a condenar publicamente o governo chinês por seus abusos em Xinjiang, Hong Kong, Tibete e em outros lugares continuou a crescer, enquanto o número de países dispostos a elogiar Pequim diminuiu. Em outubro, a Alemanha fez uma declaração conjunta condenando as violações do governo chinês ao Terceiro Comitê da Assembleia Geral da ONU, com o apoio de 39 países, e a Turquia fez uma declaração separada de preocupação. Da mesma forma, mais de 400 organizações da sociedade civil pediram um mecanismo internacional para monitorar os direitos humanos na China.

Outra coalizão global de 200 grupos da sociedade civil lançou uma campanha para persuadir empresas em risco de cumplicidade com o trabalho forçado uigur a deixar Xinjiang. Em setembro, a empresa de vestuário H&M disse que cortaria os laços com um fornecedor supostamente cúmplice com o qual tinha uma relação indireta, embora cinco empresas anunciaram que não conduziriam mais auditorias naquela região devido a restrições.

Outras empresas globais permitiram a repressão das autoridades chinesas. Em junho, a HSBC expressou publicamente seu apoio à nova Lei de Segurança Nacional de Hong Kong; em setembro, a Disney não respondeu ao clamor global por ter cooperado com autoridades abusivas em Xinjiang durante as filmagens de Mulan.

Universidades fora da China continuaram a lutar para proteger a liberdade acadêmica face às ameaças de manifestações pró-China. A Universidade de New South Wales, na Austrália, retirou um artigo pró-Pequim considerado questionável e o publicou novamente, mas falhou em usar a oportunidade para explicar e defender vigorosamente a liberdade acadêmica.

Em outubro, a China foi eleita para o Conselho de Direitos Humanos da ONU para um mandato de três anos, começando em janeiro de 2021 – com o menor número de votos entre os membros eleitos.

Política Externa

O “Belt and Road Initiative” (BRI, sigla em inglês), anunciado em 2013, é o programa de investimento e infraestrutura de um trilhão de dólares da China que se estende por cerca de 70 países. Muitos projetos do BRI foram criticados por falta de transparência, por desconsiderar preocupações das comunidades e pelo potencial de degradação ambiental. Grupos da sociedade civil no Camboja, Laos, Mianmar e Tailândia alegaram que as barragens hidrelétricas apoiadas pelo BRI impactaram negativamente o rio Mekong e causaram escassez de água. A China é de longe o maior emissor mundial de gases de efeito estufa. Pouco fez para reduzir suas emissões, que contribuem significativamente para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Continuou a promover o desenvolvimento com carvão altamente poluente, tanto internamente quanto por meio do BRI.

O ano de 2020 marcou uma escalada rápida da hostilidade do governo chinês a jornalistas estrangeiros. Pequim expulsou em fevereiro três jornalistas do Wall Street Journal. Em março, as autoridades expulsaram pelo menos 13 cidadãos dos EUA e demitiram sete cidadãos chineses que trabalhavam para agências de notícias dos EUA. Em setembro, as autoridades atrasaram a renovação de vistos para vários jornalistas de agências norte americanas. No mesmo mês, as autoridades proibiram dois repórteres australianos de duas agências de notícias australianas de deixarem o país, citando a necessidade de questioná-los sobre o caso de Cheng Lei, um âncora australiano da emissora estatal chinesa CGTN que foi detido em agosto por motivos não especificados. Os dois jornalistas australianos saíram da China depois que a proibição foi suspensa após negociações entre os dois países.

O efeito da censura do governo chinês vai  além das fronteiras da China. Em junho, o Zoom fechou a conta de um dissidente chinês baseado nos EUA depois que ele realizou um memorial ao massacre de Tiananmen, ao qual se juntaram ativistas na China e famílias de vítimas do massacre de 1989. A empresa de tecnologia chinesa ByteDance, dona da TikTok, censurou conteúdo considerado crítico ao governo chinês em seu aplicativo de notícias na Indonésia de 2018 a meados de 2020, de acordo com um relatório da Reuters.

Na sessão de junho do Conselho de Direitos Humanos, a China garantiu a aprovação de sua resolução sobre "cooperação mutuamente benéfica", que ignora a responsabilidade dos Estados de proteger os direitos humanos e minimiza o papel da sociedade civil. O apoio diminuiu consideravelmente em relação à resolução "ganha-ganha" proposta anteriormente pela China, indicando uma diminuição do entusiasmo por essas iniciativas.