Resumos das Cidades
DE WASHINGTON, D.C.,LOS ANGELES E NOVA IORQUE

Washington, D.C.

Escândalos envolvendo a Polícia Metropolitana do Distrito de Columbia (District of Columbia's Metropolitan Police Department, MPD) tem menos relação com as alegações de uso excessivo de força de seus 3.600 policiais do que com rixas políticas e graves falhas administrativas. Embora em crise, o Departamento está embarcando em uma agressiva campanha de "qualidade de vida", significando que os conflitos entre a polícia e os cidadãos e as oportunidades para cometer abusos aumentarão. Com a Corregedoria operando sob excessivo sigilo e a abolição, em 1995, do órgão externo de fiscalização da polícia, o departamento está entregue a muito pouca crítica externa de como lidar com denúncias de brutalidade.

Além dos sérios escândalos envolvendo os líderes do departamento -- inclusive um que recentemente forçou a renúncia do chefe do departamento -- mesmo os policiais comuns também têm se envolvido em problemas. Segundo informes da imprensa, cerca de cem policiais que ingressaram por concurso na força policial entre 1989-1990, quando a avaliação dos históricos pessoais era quase inexistente, foram mais tarde denunciadas por ofensas criminais.

No início de 1997, esforços foram tomados para copiar a iniciativa de "qualidade de vida" do Departamento de Polícia de Nova Iorque através do policiamento mais agressivo de ofensas menores e se fazendo também uma presença visível por toda a cidade. A resposta dos moradores a esses novos esforços eram mistas e refletiam aquelas em Nova Iorque: alguns deram as boas vindas ao novo ativismo enquanto outros reclamaram que a polícia era agressiva em excesso. Um policial disse: "[Autoridades policiais] querem ver números, então estamos prendendo pessoas por qualquer motivo." A iniciativa começou com muito pouco ou nenhum treinamento dos policiais, incluindo 400 que foram levados às ruas, provenientes de unidades especializadas e serviços administrativos e que não atuavam em patrulhas havia muitos anos. Como indicador alarmante de que o treinamento de policiais é inadequado, foi denunciado em março de 1998 que cerca da metade dos policiais da cidade não tinham licença para usar armas de fogo, como é determinado pelos regulamentos do departamento.

Depois que o órgão externo de fiscalização foi abolido em 1995, os arquivos investigativos sobre abuso policial foram transferidos para o Departamento de Polícia. O Departamento tem fracassado na supervisão do andamento desses casos e, ainda, permite que supervisores de policiais acusados conduziam investigações sobre as alegações de abuso; especialistas em abuso policial geralmente concordam que permitir que o próprio supervisor do policial o investigue é uma situação indesejável porque o supervisor provavelmente conhece o policial e talvez não queira descobrir fundamentos na denúncia uma vez que esta pode refletir como falha da própria supervisão.

Los Angeles

Depois de décadas de comportamento brutal por policiais, fraco gerenciamento do chefe e seus diretores adjuntos, além de atitudes racistas expressas em todos os níveis do Departamento em palavras e atos, o problemático Departamento de Polícia de Los Angeles parece estar, pouco a pouco, recuperando-se. Infelizmente, o Departamento esperou até que os problemas se tornassem tão graves que reconquistar a confiança em muitas comunidades, particularmente em comunidades de minorias, vai depender de um esforço de Hércules. Graças, em grande parte, as críticas e ao projeto proposto no Relatório da Comissão Independente sobre o Departamento de Polícia de Los Angeles (Report of the Independent Commission on the Los Angeles Police Department), conhecido como o relatório da Comissão Christopher, de julho de 1991, e a consistente pressão de ativistas das comunidades, tem sido possível através de relatórios subsequentes medir algum progresso das recomendações da Comissão para reformas.

A reação às gravações do espancamento de Rodney G. King em março de 1991 e os subsequentes caros e mortais motins na cidade após a absolvição dos quatro policiais envolvidos no caso, foram catalisadores das mudanças. (Dois dos policiais foram mais tarde condenados por violações criminais das leis federais de proteção aos direitos civis) A Comissão Policial formada por civis atuou de forma mais pro-ativa investigando os 9.500 membros do departamento -- embora tenha sido criticada mais recentemente por evitar conflitos com o novo chefe, Bernard C. Parks. Nos últimos anos, os processos de denúncias têm melhorado, facilitado pelo fácil acesso dos cidadãos aos formulários de denúncia e a instituição de uma nova política departamental para contabilizá-las de forma mais acertada. Talvez o avanço mais promissor tenha sido o estabelecimento de uma Inspetoria Geral para avaliar as operações do departamento. O Inspetor Geral publicou três relatórios com recomendações importantes para melhorar áreas tais como: violência doméstica cometida por policiais, policiais de "alto risco" e recebimento de queixas.

Ainda assim, ao departamento falta um sistema eficiente e abrangente para identificar policiais que estão sujeitos a repetidas queixas e processos civis, mesmo que a Comissão Christopher tenha identificado policiais reincidentes como uma pequena percentagem da força policial responsável por numerosos abusos. Um relatório de maio de 1997 do próprio departamento de polícia constatou falhas contínuas na forma em que se davam as investigações: as supostas vítimas de abuso freqüentemente não eram entrevistadas e os supervisores que estando eles próprios envolvidos nos incidentes que geraram as denúncias, eram autorizados a investigar o caso. A cidade falhou ao deixar de notificar o departamento sobre os processos civis contra autoridades, resultando em sérias alegações que não foram incluídas nas fichas pessoais desses policiais; isso, apesar dos processos civis contra policiais terem custando aos cofres públicos aproximadamente US$ 92 milhões de dólares entre 1991 e 1996. Enquanto isso, desde 1995, cortes nas verbas minaram o controle civil de incidentes com uso de armas de fogo por policiais, enquanto equipes especiais de promotores para investigar esses incidentes foram extintos e a fiscalização desses promotores tem se tornado uma exceção e não a regra.

Nova Iorque

Nova Iorque desfruta de uma queda dramática do índice de criminalidade violenta, a qual alguns atribuem à ênfase do departamento de polícia aos crimes menores perseguidos como uma forma de demonstrar o controle das ruas, e à prisão de indivíduos contra quem possam existir mandados de prisão não cumpridos. Defensores dos direitos civis notam, no entanto, que há um custo para a nova estratégia, revelado pelas queixas de cidadãos quanto a agressividade dos efetivos do Departamento de Polícia de Nova Iorque nos últimos anos e a contínua impunidade de muitos policiais que cometeram violações aos direitos humanos, apesar da reorganização do órgão externo de fiscalização e da Corregedoria da Polícia tenham sido reorganizados recentemente. Especialistas em abusos policiais indagam por que, se a liderança da polícia tem tanta vontade de acabar com os crimes graves perseguindo agressivamente aqueles que cometem crimes menores, é que ao mesmo tempo tem falhado em demonstrar a mesma agressividade para com os policiais antes que eles cometam mais ofensas sérias.

Em agosto de 1997, depois que a denúncia de tortura do imigrante haitiano, Abner Louima, pela polícia foi manchete e ultrajou os nova iorquinos, o recorde anti-crime do prefeito e do Departamento de Polícia foi manchado. Embora as denúncias de Louima, inclusive a de ter sido violentado com um cabo de madeira em seu ânus sejam atípicas, outros aspectos do caso eram mais conhecidos: nenhum policial da delegacia onde ocorreu o incidente denunciou o fato para os investigadores, a maioria manteve sigilo depois dos acontecimentos, a Corregedoria fez mal uso dos relatórios do caso por outras fontes e policiais teriam usado insultos raciais ao se referirem a Louima. Promotores federais estão agora tratando do caso contra os policiais envolvidos que foram denunciados por violações dos direitos civis de Louima. Depois de protestos e críticas sobre o caso Louima, o prefeito Rudolph Giuliani designou uma força tarefa para examinar as relações polícia-comunidade mas depois respondeu ao relatório ridicularizando-o.

O órgão externo de fiscalização (Civilian Complaint Review Board; CCRB) encarregado de investigar as queixas apresentadas contra os 38.000 membros do Departamento de Polícia de Nova Iorque, só conseguiu fundamentar 4% das denúncias entre 1993 e dezembro de 1996. Mesmo quando fundamenta queixas contra policiais, este órgão não tem o poder de garantir que ações disciplinares apropriadas sejam tomadas porque esse poder é deixado inteiramente a cargo do Departamento de Polícia que pode, ou não, decidir aceitar e responder conforme as constatações do CCRB. Durante os primeiros três anos e meio de investigação do CCRB, após restruturação que o tornou independente, (entre julho de 1993 e dezembro de 1996) apenas 1% de todos os casos apresentados resultaram em sanções disciplinares contra os policiais envolvidos e em mais de 18.336 queixas (cerca de 40% alegando excessivo uso de força), houve apenas um policial afastado como resultado de uma acusação fundamentada pelo CCRB. Dados preliminares relativos aos primeiros seis meses de 1997 indicam um aumento na investigação completa das denúncias e um acréscimo na porcentagem de casos fundamentados.

A fiscalização do departamento e as investigações dos policiais acusados de violações aos direitos humanos são falhas; além disso, se dão de forma extremamente sigilosa. Processos civis que teriam custado aos cofres públicos cerca de US$ 70 milhões em acordos ou indenizações outorgadas por júri em casos de abuso policial entre 1994 e 1996, não necessariamente instigam investigações internas, não importando a gravidade do abuso alegado. Muitas vezes, esses abusos sequer são registrados na ficha pessoal desses policiais. Em dezembro de 1997 foi revelado que o Departamento não controlava ou monitorava os policiais envolvidos em incidentes com uso de arma de fogo. Os policiais acusados por abuso poderiam esperar dois dias úteis antes de apresentar seus depoimentos para os investigadores e não há medidas disciplinares alternativas entre os trinta dias de suspensão e o afastamento, reduzindo dessa forma a possibilidade do CCRB aplicar uma sanção disciplinar apropriada.