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Neste ano, a campanha tem sido marcada por ameaças e graves episódios de violência. © Weberson Santiago/Veja

"Acabei de votar. Votei nele pra acabar com você, viado do cacete."

Essa declaração chocou profundamente um querido amigo meu, cujo nome prefiro não revelar. Ele voltava de seu local de votação em São Paulo no domingo passado, junto com seu companheiro, carregando uma bandeira arco-íris, quando um estranho despejou o seu preconceito contra ele.

“Não respondi. Eu tive medo”, ele me disse. Ele tinha acabado de voltar de uma conferência sobre diversidade e inclusão nos Estados Unidos.

Na semana passada, um vídeo gravado em uma estação de metrô em São Paulo mostrou um grupo de torcedores gritando: "Ô, bicharada, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado".

As eleições são um exercício de democracia; é um momento especial em que nós, cidadãos, podemos refletir sobre o país e, pacificamente, escolher o futuro que desejamos. Mas, neste ano, a campanha tem sido marcada por ameaças e graves episódios de violência.

De acordo com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, no período de janeiro até domingo passado, quando ocorreu o primeiro turno de votação, 137 jornalistas foram ameaçados ou agredidos enquanto cobriam as eleições.

No domingo, um homem esfaqueou até a morte Romualdo Rosário da Costa, um mestre de capoeira de 63 anos, em um bar em Salvador. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que o suposto assassino, que mais tarde fora detido, era um partidário do candidato à Presidência Jair Bolsonaro, e que teria ficado irritado quando Romualdo revelou que havia votado em seu oponente, Fernando Haddad.

E, claro, o próprio Bolsonaro foi vítima de um violento ataque durante um comício em Minas Gerais que quase tirou-lhe a vida no mês passado. Adélio Bispo de Oliveira disse que esfaqueou Bolsonaro porque não gostava dele e teria seguido "ordens de Deus". A polícia federal acredita que ele agiu sozinho.

Todos os candidatos presidenciáveis condenaram a tentativa de homicídio contra Bolsonaro.

O ataque ocorreu apenas cinco dias após Bolsonaro dizer: “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, hein?, durante um comício no respectivo estado.

Bolsonaro tem um histórico de defender práticas violentas e ilegais. Ele disse que a ditadura militar (1964-1985) errou ao torturar pessoas quando deveria tê-las matado; se referiu em diversas oportunidades a um dos piores torturadores da ditadura como "herói" e disse que a polícia deveria ter carta branca para matar suspeitos.

Os candidatos não podem ser responsabilizados ​​por tudo que seus apoiadores fazem. No entanto, no mínimo, eles têm a obrigação de garantir que seus discursos não incitem a violência. E quando ameaças e atos de violência ocorrem,  devem condená-los de maneira categórica.

Dado o ambiente altamente polarizado no Brasil, nas semanas que antecedem o segundo turno de eleição, há um sério risco de contínua intimidação, ameaças e violência. Nesse contexto, tanto Bolsonaro quanto Haddad devem rejeitar e condenar qualquer tipo de violência.

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