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Vídeo mostra polícia do Rio executando dois homens

Abusos policiais alimentam o ciclo da violência no Brasil

Um policial se aproxima de um homem deitado no chão e pega o que parece ser um fuzil ao lado dele. Quando o homem olha para cima, o policial atira. A câmera então se movimenta para filmar outro policial, aproximando-se de um segundo homem também deitado ao chão. O policial atira nele, e continua andando.

As execuções aconteceram no dia 30 de março, do lado de fora do muro da Escola Municipal Daniel Piza, no Rio de Janeiro.

A estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, estava na aula de educação física e também foi morta. Seu tio disse a jornalistas que ela foi baleada três vezes no momento em que a polícia – do outro lado do rio Acari, que corre em frente à escola – abriu fogo contra os dois suspeitos.

O comandante da polícia militar do Rio de Janeiro afirmou que o vídeo revela "flagrante ilegalidade". O porta-voz do próprio comando, contudo, não foi tão claro. "Agora cabe aqueles policiais ter uma chave seletora na mente deles para que eles sejam hora um garantidor de direitos e hora um guerreiro, porque a realidade ali é de guerra", disse ele.

A polícia do Rio exerce um trabalho perigoso. Quarenta e seis policiais militares foram mortos este ano, dentro e fora de serviço. No entanto, a execução de suspeitos e o uso excessivo da força, resultando em mortes de moradores, não ajudam em nada. Essas práticas violam o mais básico de todos os direitos – o direito à vida – e representam o oposto daquilo que a polícia deveria defender. Além disso, esses abusos alimentam o ciclo da violência.

Qual criminoso no Rio, após assistir ao vídeo de 30 de março, se renderia pacificamente ao ser encurralado? O medo de ser executado pode levar suspeitos a atirar contra a polícia. Diversos policiais expressaram essa preocupação durante entrevistas que fiz no ano passado.

Outros policiais me contaram que temiam, depois que colegas executaram pessoas, que as comunidades virassem as costas e deixassem de denunciar crimes ou de alertarem os policiais de perigos, tornando os policiais ainda mais vulneráveis.

Desde que realizei essas entrevistas, a situação tem piorado. A polícia do Rio matou 920 pessoas em 2016. As mortes aumentaram 78 por cento em janeiro e fevereiro de 2017.

A única resposta apropriada é conduzir uma investigação aprofundada e imparcial de todos os homicídios cometidos pela polícia – não apenas aqueles flagrados em vídeo – e processar cada policial que comete um crime. Isso é o que melhor protegerá tanto as comunidades do Rio quanto a sua força policial.

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